terça-feira, 5 de junho de 2012

ASSÉDIO MORAL, O PACTO DO MAL


O mal escondido por trás do Comando do Chefe...


Mesmo há pouco tempo na empresa, Isabella Serra já era uma das funcionárias de maior destaque. Não demorou muito para virem os comentários maldosos por parte dos colegas e até da própria chefe. Piadas de mau gosto, ofensas pessoais, humilhação e o isolamento do grupo contribuíram para o relacionamento dentro da empresa ficar cada vez mais difícil. Esse tipo de situação pode ser identificada como assédio moral, muito mais freqüente do que se imagina nos ambientes de trabalho.


Também chamado de violência moral, isso não é fato novo. Digamos que é tão antigo quanto o próprio trabalho. Pode-se definir assédio moral como a exposição do trabalhador a situações constrangedoras e de humilhação, ocorridas repetidas vezes durante a jornada de trabalho. São mais comuns em relações entre chefe e empregado, mas podem acontecer, também, entre colegas que possuem a mesma função.


“Dentro das empresas o assédio moral ainda não está sendo muito discutido. É uma palavra que a grande maioria das pessoas não conhece.”

Perceber quando uma situação é assédio moral não é tão difícil. Gestos e condutas abusivas, risinhos pelos cantos, não cumprimentar, oferecer tarefas sem sentido ou sem utilidade, tornar público algo íntimo de alguém do trabalho e a ridicularização são as atitudes mais comuns desse tipo de comportamento. Quando as mulheres sofrem o assédio, a intimidação acontece proibindo sua fala, fazendo comentários sobre a aparência e, acreditem, até controlando o tempo que passa no banheiro. Já com os homens, os comentários sobre sua virilidade são os mais comuns.


Diante disso, o clima do ambiente de trabalho não fica nada bem. Começando pela "vítima", que fica isolada dos colegas, com baixa auto-estima e desestimulada. Em casa, as relações pessoais ou afetivas ficam perturbadas e o profissional apresenta, até, riscos de saúde. Dentro da empresa, os colegas costumam instaurar o chamado "pacto da tolerân-cia e do silêncio": enquanto o colega sofre do assédio, os outros funcioná-rios não interferem, muitas vezes por medo de perder o emprego ou de se verem na mesma situação.


A demissão forçada acaba sendo a forma mais utilizada para fugir do mal-estar e reestabelecer qualidade de vida. "Infelizmente, a pressão é muito grande. Como continuar a trabalhar num local em que você está sendo colocado pra escanteio?" É o que afirma a psicóloga organizacional. Para ela, provar o que acontece acaba sendo uma tarefa quase impossível. "As pessoas sabem que o assédio existe, mas é muito velado. Você não briga, não agride fisicamente, mas há um posicionamento que deixa a pessoa sem saída. Fica a sua palavra contra a de alguém que tem o poder maior que o seu, seja de influência ou de hierarquia."


A psicóloga afirma, ainda, que a causa principal do assédio moral é a competitividade, muitas vezes estimulada pela própria empresa. "A tendência natural das pessoas é de buscar o poder. E nas empresas esses valores estão muito arraigados. A própria diretoria pode comungar com o que acontece."


Mesmo estando presente há muito tempo nas relações de trabalho, poucos conhecem. "É uma discussão bastante nova. Dentro das empresas o assédio moral ainda não está sendo muito discutido. É uma palavra que a grande maioria das pessoas não conhece. Precisamos discutir mais esse assunto com a sociedade, para que seja possível tomar uma postura diante dessa situação."


VÍTIMA DEVE
DENUNCIAR O FATO

Para não pedir demissão, a vítima de assédio moral tem outras alternativas. Uma delas é denunciar o fato ao Ministério Público do Trabalho. O procurador do Ministério e coordenador da Coordenadoria Regional de Promoção de Igualdade, Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho, Nicodemos Fabrício Maia, recomenda que a vítima recorra a esse recurso o quanto antes.


Para isso, é preciso atentar para alguns detalhes. O primeiro deles é anotar, detalhadamente, as humilhações sofridas - dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam e conteúdo da conversa. Depois disso, continua ele, vítima deve evitar conversar com o agressor sem testemunhas por perto. A vítima também pode solicitar, por escrito, explicações por parte do agressor, através do Departamento Pessoal ou de Recursos Humanos da empresa.


Outra providência importante é comunicar e buscar apoio do sindicato. "A participação do sindicato é importante, principalmente, para identificar as denúncias realmente profissionais e não apenas de cunho retaliativo", afirma Maia. Além disso, ele conta que o apoio dos colegas de trabalho e dos amigos e familiares são fundamentais para dar visibilidade ao fato.
Em caso de constatação, esse tipo de denúncia pode acarretar desde uma notificação à empresa até o pagamento de uma indenização por danos morais. O processo é mantido em sigilo e todas as informações são verificadas.


SINTOMAS DO ASSÉDIO MORAL
Sintomas Mulheres % Homens %
Crises de choro 100 0
Dores generalizadas 80 80
Palpitações, tremores 80 40
Sentimento de inutilidade 72 40
Insônia ou sonolência excessiva 69,6 63,6
Depressão 60 70
Diminuição da libido 60 15
Sede de vingança 50 100
Aumento da pressão arterial 40 51,6
Dor de cabeça 40 33,2
Distúrbios digestivos 40 15
Tonturas 22,3 3,2
Idéia de suicídio 16,2 100
Falta de apetite 13,6 2,1
Falta de ar 10 30
Passa a beber 5 63
Tentativa de suicídio - 18,3




O QUE ACONTECE NOS ESPAÇOS DE HUMILHAÇÃO


Nas                                                               empresas 
                                                                
– Estimular a competitividade e individualismo
– Ameaçar os sindicalizados
– Impedir o uso do telefone em casos de urgência
– Reduzir o horário e restringir o local das refeições
– Discriminar pelo sexo
– Impedir que as mulheres engravidem
– Adverter em conseqüência de atestado médico
 

No                                                           tratamento com o funcionário
 
– Ameaçar constantemente de demissão
– Dar ordens confusas e contraditórias, desestabilizando o trabalhador
– Sobrecarregar de trabalho

– Negar informações importantes para a realização da tarefa
– Desmoralizar publicamente
– Conversar paralelamente e a distância
– Não cumprimentar ou ignorar sua presença
– Desqualificar seu trabalho
– Sugerir que peça demissão
– Divulgar boatos sobre seu caráter e moral
– Impedi-lo(a) de questionar
– Ridicularizá-lo(a) por sofrer de alguma doença
– Tratá-lo(a) como criança
– Menosprezar seu sofrimento
                   


Fonte: O Povo.

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