segunda-feira, 9 de maio de 2011

Campanha do desarmamento: falta controle das armas ilegais

Jornal da Band

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O governo federal lança a terceira campanha pelo desarmamento da população. As duas anteriores recolheram mais de meio milhão de armas e, mesmo assim, não conseguiram reduzir os homicídios. Ainda falta o mais importante, o controle das armas ilegais usadas pelos criminosos.

A campanha foi antecipada para coincidir com o primeiro mês após o massacre na escola de Realengo, no Rio de Janeiro. O ministro da Justiça destacou que pretende desarmar o Brasil, reduzir a violência e as mortes.

Mas as estatísticas do próprio governo mostram que o desarmamento da população não reduziu as mortes violentas. Em 1998 foram registrados 41.950 homicídios no país. Apesar da primeira campanha pelo desarmamento, aconteceram 47.578 mortes em 2005.

E, mesmo depois de a legislação ter dificultado a compra e a posse de armas, o número de assassinatos alcançou 50.113 em 2008, último dado oficial disponível. Em dez anos, esse tipo de crime cresceu quase 20%.

Sete em cada dez homicídios são cometidos usando-se armas de fogo, a grande maioria delas ilegais. Nas duas campanhas anteriores, o governo diz que recebeu 550 mil armas.

Na nova campanha de desarmamento, o governo vai pagar entre R$ 100 e R$ 300 por cada arma entregue, que será destruída imediatamente. Além disso, a pessoa não será obrigada a se identificar.

Essas medidas são consideradas temerárias pelos especialistas. O promotor Roberto Tardelli lembra dois casos de pessoas mortas por ladrões no Rio de Janeiro e em São Paulo. As cenas foram gravadas por câmeras de segurança. Mas, com a garantia de que terão a identidade preservada, os bandidos poderão entregar as armas usadas no crime.

“Nós vamos agora comprar a arma usada no crime logo após ser utilizada, destruir provas importantes e a possibilidade de elucidação de crimes. E mais, vamos pagar por isso”, disse o promotor.

O governo lança nesta sexta-feira mais uma campanha de desarmamento da população. Mas as
estatísticas do próprio Ministério da Justiça indicam que o problema não são as armas legais e sim as ilegais, que estão nas mãos dos criminosos.

Segundo estudos do ministério, o Brasil é o campeão mundial de mortes por arma de fogo. Isso significa que é mais fácil ser baleado e morto no Brasil, do que na guerra civil na Líbia.

São 34 mil assassinatos por ano e 16 milhões de armas circulam pelo país. Quase metade ilegais. E são estas as responsáveis pela grande maioria dos assaltos e assassinatos.

Nos cinco Estados com maior número de armas legais, ocorreram 9% de homicídios. Já em outros cinco Estados com menor quantidade de armas registradas, aconteceram 26% das mortes.

A maioria das armas ilegais entra pelas fronteiras, como a do Paraguai. A Band mostrou como é fácil comprar uma arma em Ciudad del Este. Segundo a denúncia, um motoboy entrega a arma no Brasil.

Mas, se um cidadão quiser comprar e portar uma arma legalmente, um direito garantido por lei, vai pagar caro, esperar meses e pode nem conseguir. Na década de 1190, só o Estado de São Paulo concedia em média 90 portes de arma por ano. Atualmente, a lei está tão rígida que em 2010 apenas 47 paulistas receberam a autorização.

Em 2005, o brasileiro decidiu, por meio do voto, que o cidadão teria direito de possuir uma arma.
Mesmo assim, depois do massacre de Realengo, quando um jovem invadiu uma escola e matou 12 estudantes, no Rio, o tema voltou ao debate.

Vários políticos aproveitaram a oportunidade para defender um novo plebiscito para decidir a questão. Um absurdo, na opinião do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, Luiz Flavio Borges D’Urso. Para ele, o que falta é o Estado cumprir sua missão, de combater o negócio ilegal de armas.

Editorial

O governo brasileiro, apoiado por políticos demagógicos e oportunistas, tenta impor à população uma ideia falsa: a de que uma campanha de desarmamento vai reduzir a criminalidade. Comanda esta ofensiva mentirosa o ministro da Justiça, omitindo fatos que explicariam a realidade do crime no país.

E os fatos são claros: a ameaça vem das armas clandestinas que o ministro e seu governo deveriam combater. E não das armas legais dos cidadãos honestos. Se elas forem retiradas de circulação, restarão apenas as dos bandidos - o que só pode aumentar o perigo de assaltos e de assassinatos.

É chocante como a força da demagogia tapa os olhos de quem deveria ver com mais clareza este cenário, tão simples e tão trágico. Ao empunhar a bandeira da mentira, o ministro e sua campanha de convencimento agridem, não só a realidade brasileira, mas também a vontade da maioria da população.

Há pouco tempo, ela exigiu, em um referendo, o direito de o cidadão honesto ter a sua arma.

Exigência legítima, que é praxe em quase todo o mundo, até para se defender sim, em um país em que o Estado não cumpre o seu papel na segurança pública.
 

Esta é a opinião do Grupo Bandeirantes de Comunicação.
 

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