A região, com quatro cidades, só tem menos gente assassinada que Honduras, que no ano passado se tornou o país mais violento do mundo.
Depoimentos e flagrantes que poderiam ser de uma guerra, em algum lugar perdido, isolado no restante do Brasil, foram registrados em quatro cidades da periferia da capital do país: Novo Gama, Luziânia, Águas Lindas de Goiás e Valparaíso de Goiás.
A região do entorno de Brasília é considerada hoje uma das mais violentas do Brasil. Com a chegada do fim de semana, aumentam o medo e a tensão dos moradores que vivem a 40 quilômetros de distância da capital do país.
Poder e segurança de um lado; realidade sombria do outro. É madrugada em Novo Gama. As ruas parecem tranquilas, mas o perigo pode estar em qualquer lugar. “Onde é escuro não é bom ficar passando não”, explica um homem.
“Estava todo mundo aqui na porta: eu, a mãe dela, outra amiga nossa, uma menininha pequeninha e os meninos. Ele chegou e começou a atirar”, conta uma menina. “Todo mundo entrou correndo, mas o tiro acertou meu irmão”, lamenta outra menina. O rapaz baleado já está no hospital. Um morador desabafa: “Isso é normal, corriqueiro. Todo dia”.
Em Luziânia, perto dali, mais violência. Três menores de idade roubaram todo o faturamento de um ônibus: R$ 400. “Mais que meu salário. É complicado”, comenta um homem.
Nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo, a polícia intensifica as rondas nas quatro cidades. Homens da Força Nacional de Segurança ajudam a Polícia Militar. “As estatísticas mostram que estamos com um índice de homicídio alto”, avalia um policial.
No Brasil, o índice de mortos por homicídios é de 24,5 vítimas para cada cem mil habitantes. No entorno de Brasília, as cidades de Novo Gama e Águas Lindas têm mais que o dobro desse índice.
“Os homicídios vão continuar ocorrendo. Nós vamos tentar baixar esse índice”, garante o tenente-coronel Wellington, da PM de Goiânia.
Em Luziânia, o índice é de 71,04 vítimas fatais. Em Valparaíso é a mais violenta de todas: 75,97 vítimas para cada cem mil habitantes. Com esses números, a região do entorno de Brasília só tem menos gente assassinada que Honduras, que no ano passado se tornou o país mais violento do mundo.
Um comerciante quase morreu na sexta vez em que foi assaltado. “Levei dois tiros. Um deles acertou a minha boca. Estou com uma deficiência no maxilar, não posso fazer força, não posso pegar peso, não posso pegar sol. Não me sinto seguro em sair mais. Não tenho segurança. Toda hora que encosta um veículo do meu lado, eu fico assustado”, diz.
“São mais de dez mil inquéritos inconclusos merecendo uma preocupação nossa já”, revela Edson Costa Araújo, do gabinete de Gestão de Segurança do Entorno do Distrito Federal.
São dez mil investigações ainda em aberto. “As pessoas morrem e polícia vai acumulando os inquéritos, e as pessoas vão virando pasta”, constata Marlúcia de Matos, mãe de uma vítima.
As autoridades reconhecem que todas as cidades do entorno precisam de investimentos. “Na educação, na segurança publica”, avalia Edson Costa Araújo.
Assista ao vídeo:
Fonte: G 1
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