segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Exposição do jovem à violência é maior no Norte e no Nordeste

Exposição do jovem à violência é maior no Norte e no Nordeste
 

Agência Estado

As duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, não são, ao contrário do que supõe o senso comum, os lugares mais violentos para os jovens brasileiros. É o que mostra estudo coordenado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresentado nesta terça-feira (24) em São Paulo, que envolveu os 266 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. No ranking, São Paulo ficou em 192º lugar e, o Rio, na 64º posição.

O estudo diagnosticou a exposição de jovens de 12 a 29 anos à violência por meio do Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IJV), desenvolvido em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). O IJV mostra que o grau de exposição dessa faixa etária à violência é considerado muito alto em 10 cidades: Itabuna (BA), Marabá (PA), Foz do Iguaçu (PR), Camaçari (BA), Governador Valadares (MG), Cabo de Santo Agostinho (PE), Jaboatão dos Guararapes (PE), Teixeira de Freitas (BA), Linhares (ES) e Serra (ES). Outros 33 municípios tiveram IJV considerado alto. Entre os municípios menos vulneráveis estão São Carlos, São Caetano do Sul e Franca, todos em São Paulo.

O ranking das dez piores cidades denota o que os dados gerais do estudo mostram: que embora espalhada por todo o país, a exposição do jovem à violência é maior no Norte e Nordeste. Renato Sérgio de Lima, secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, explicou que isso ocorre porque o índice de vulnerabilidade tem como vários dados socioeconômicos como número de homicídios, escolaridade, acesso ao mercado de trabalho, renda e moradia. "Violência não é só crime, mas também uma série de outros fenômenos, como falta de escola, pobreza, desigualdade, acidente de trânsito. Isso compõe o cenário em que esses jovens vivem", afirmou. Ele explicou, ainda, que a violência é localizada de forma mais aguda no Norte e no Nordeste. Porém, como a pesquisa lida com todo o contingente de jovens e não apenas com aqueles que estão diretamente expostos esse porcentual acaba sendo ponderado e distribuído em cidades como Rio e São Paulo.

Se grandes cidades como as duas capitais se localizam em uma área "confortável" do índice, o perfil do jovem mais exposto à violência é o mesmo do encontrado em outras pesquisas do tipo: jovem de 19 a 24 anos, homens, negros. "Os mais atingidos pela violência têm um perfil muito claro e isso é muito relevante para a definição de políticas públicas", afirmou Lima.

Para o ministro da Justiça Tarso Genro, que participou da apresentação do estudo, a pesquisa derruba determinados mitos, como o de que o Rio de Janeiro tem a situação mais vulnerável. "O Rio tem problemas graves, mas a pior situação está no Nordeste, que tem indicadores sociais baixos, poucos recursos para aplicação em sistemas de segurança pública e poucas políticas preventivas, que agora estão começando com a adesão de dezenas de municípios ao Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania)", afirmou.

Genro e Lima consideraram que, embora graves, os dados mostram que a situação não é de caos absoluto. "Podemos vencer a violência e a criminalidade concentrando-nos na juventude e com foco territorial e em determinados setores sociais mais vulneráveis", afirmou Genro. "O estudo revela que temos 43 municípios com alta e muito alta vulnerabilidade, mas, por outro lado, revela que é um problema que pode ser enfrentado. Não significa o caos na segurança pública", disse Lima.

A pesquisa foi feita em parceria com o Instituto Sou da Paz, o Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção ao Delito e Tratamento do Delinquente (Ilanud) e a Seade. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública é uma organização não governamental apartidária de suporte à gestão da segurança pública no País.
Percepção da violência
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou junto com a pesquisa sobre vulnerabilidade juvenil, um levantamento realizado pelo Datafolha mostrando a percepção da violência entre os jovens de 12 a 29 anos. Dos 5.182 entrevistados em 31 municípios de 13 Estados, 31% admitem ter facilidade para obtenção de armas de fogo além disso, 64% deles estão expostos a algum risco ou história de violência e costumam ver pessoas (não policiais) portando armas.
Metade da população entrevistada declara presenciar violência policial. E, para 11% deles, tal violência é "comum". Cerca de 88% declararam ter visto corpos de pessoas assassinadas e 8% disseram que pessoas próximas foram vítimas de homicídios.
 
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI106373-15228,00-EXPOSICAO+DO+JOVEM+A+VIOLENCIA+E+MAIOR+NO+NORTE+E+NO+NORDESTE.html
O crime mora na classe média
Nelito Fernandes e Solange Azevedo



Tráfico, assalto e seqüestro, no Brasil, deixaram de ser apenas "coisa de pobre". Num movimento social inesperado, jovens de classe média e alta entram cada vez mais no mundo do crime violento. Dias atrás, a polícia carioca matou Pedro Lomba Neto, de 23 anos, conhecido como Pedro Dom. Filho de uma família de classe média, criado na zona sul da cidade, Pedro Dom transformou-se no mais famoso ladrão de residências do Rio de Janeiro, envolveu-se com traficantes e resistiu à prisão atirando granadas nos policiais. A polícia paulista pegou uma quadrilha de jovens de um bairro nobre de São Vicente, no litoral, que assaltava casas, tomando crianças como reféns. Fatos como esses chamam a atenção porque a classe média só costumava freqüentar os boletins de ocorrência em casos como crimes passionais e brigas de trânsito. Agora, jovens "de boa família" traficam e roubam, assim como os mais velhos trocaram de lugar no balcão das drogas. Sócios de uma pizzaria do Rio, por exemplo, foram presos por envolvimento com uma quadrilha de tráfico internacional de cocaína. Em São Paulo até personal trainer bem pago vem organizando furtos a mansões de clientes.

Só neste ano, a Polícia Federal prendeu 69 traficantes bem-nascidos, em aeroportos, raves e boates. No Estado de São Paulo, o Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) deteve 180 universitários pelo mesmo motivo. As cadeias também estão ficando mais democráticas: um censo feito pela Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro mostra que 15% dos presos têm renda familiar de mais de cinco salários mínimos. E nada menos que 5% dos detentos estão na faixa de renda que o Ibope enquadra como "classe A". Entre os motivos apontados pelos condenados para praticar crimes, o desejo de consumo é o segundo colocado, com 17%. Perde apenas para "satisfazer necessidades básicas", motivo principal entre os mais pobres, com 39% dos casos. "Jovens são naturalmente transgressores. O esvaziamento ideológico, além das falhas educacionais, faz com que, para esse grupo, o crime e o tráfico sejam a forma mais acessível de transgredir", explica o sociólogo Gilson Caroni Filho. "Além disso, há um componente de exibicionismo e sensação de poder. Acostumados a ter de tudo, muitos rapazes se frustram ao descobrir que, na idade adulta, não conseguem alcançar o padrão de consumo que ambicionam." Há dois anos, no Rio, apenas 20% das drogas eram apreendidas fora das favelas. Hoje, o porcentual chega a 50%. Isso acontece porque, diferentemente da cocaína, as drogas sintéticas — que estão na moda — não precisam ser compradas de barões do tráfico na Colômbia e Bolívia. São adquiridas em ambientes de classe média em Miami ou na Europa, ou mesmo produzidas no exterior, em fundos de quintal, por gente com um mínimo conhecimento de química. Em São Paulo, um estudante foi detido recentemente quando produzia LSD no laboratório de uma universidade.

Os estudantes, que no passado vendiam maconha ou cocaína, o faziam em grande parte para manter o próprio vício ou abastecer festinhas de amigos, mas não contavam enriquecer com isso. Agora, eles voam mais longe. A bagagem cultural e a facilidade para sair do país ajudam os novos traficantes. "Prendemos dois rapazes com um maço de passagens para Amsterdã. Eles ficavam um tempo trabalhando lá e voltavam com ecstasy para vender aqui. Outro tinha R$ 300 mil na conta bancária", diz Ivaney Cayres de Souza, diretor do Denarc de São Paulo. Em Santa Catarina, surfistas poliglotas têm sido arregimentados como "mulas". Em troca de equipamentos para a prática do esporte, que custam entre US$ 4 mil e US$ 5 mil, eles levam cocaína para a Europa e trazem na bagagem ecstasy. "Eles têm entre 23 e 35 anos e são de classe média alta. Descobrimos filas de pessoas, inclusive meninas, que queriam ser aliciadas", conta o delegado da Polícia Federal Ildo Rosa. Ramificações dessas gangues foram descobertas em várias partes do país. Em Brasília, um grupo que movimentava cerca de R$ 500 mil por mês foi preso no início do ano. O papel de uma das integrantes chamou a atenção da polícia. Sandra Gorayeb era funcionária do Ministério Público e, segundo o delegado Miguel Lucena, além de trazer droga da Holanda, é suspeita de passar informações privilegiadas para o grupo. Ela trabalhava justamente no departamento que distribuía os mandados de prisão. "A quadrilha foi presa, mas, como tinha bala na agulha, já está na rua", diz Lucena. Em Goiás, a delegada Renata Cheim, do Denarc, diz que só não prende mais gente por falta de espaço.

Mas por que o crime de colarinho de grife cresce? Ironicamente, a violência contribuiu para isso. Com os grandes chefões do tráfico presos ou mortos, os morros do Rio estão sob a administração de bandidos mais jovens — e mais violentos. Não existe, entre a bandidagem mais nova, a cultura da malandragem de respeitar o consumidor e não "sujar a área". Entrar numa favela para comprar drogas tornou-se uma prática de altíssimo risco. No asfalto, o preço chega a ser multiplicado por dez. E isso aumenta o lucro dos traficantes. "Quase ninguém quer entrar no morro para comprar cocaína, o tráfico da droga caiu drasticamente. Agora, a classe média passou a comprar no próprio condomínio e procurar outras drogas, como o ecstasy — cujo tráfico é completamente controlado pela classe média", diz Marina Magessi, chefe de investigação da Polinter. "O consumo mundial de drogas sintéticas só perde para o de maconha", diz o delegado Ronaldo Urbano, coordenador-geral de repressão a entorpecentes da Polícia Federal.

O tráfico de condomínio cresce também porque vende a impressão de não ser violento. "Moralmente, essas drogas são consideradas menos ofensivas do que as injetáveis e os inalantes. Parecem com remédios e, para esses jovens, são mais aceitáveis", diz o criminólogo Túlio Kahn. "Mas duvido que eles entrem nessa por inocência, pois é um mercado muito lucrativo." Quem vende assim não se sente traficante: acha que é apenas um comerciante como outro qualquer, diz Marina. O lucro fácil — uma pílula é comprada no exterior por R$ 10 e chega a ser vendida por R$ 80 no Brasil — atrai gente como o administrador de empresas André Maurício Freire Pires, gerente de uma empresa de importação e exportação, preso há três anos quando trazia 10 mil comprimidos de ecstasy para o Brasil, vindos da Holanda. Embora tenha sido protagonista da maior apreensão de ecstasy no Estado do Rio, Maurício pode até ser considerado um traficante de pequeno porte, perto do volume de negócios feito pela quadrilha comandada pelo empresário José Antônio Palinhos. Há duas semanas, a Polícia Federal apreendeu num galpão 2 toneladas de cocaína dentro de buchos de boi, que iriam para Portugal. A carga valeria US$ 70 milhões. O quilo da droga era comprado por US$ 4 mil e vendido por US$ 35 mil. Só nesta operação, o grupo lucraria mais de US$ 60 milhões. Sandra Tolpiakow, sócia do restaurante Satyricon e da pizzaria Capricciosa, ex-mulher de Palinhos, foi presa, acusada de lavar o dinheiro da quadrilha com seus negócios.

A garotada bronzeada da praia também aderiu ao negócio. Em março deste ano, a polícia carioca prendeu uma quadrilha de traficantes universitários, com idade entre 18 e 27 anos. A chamada Operação Orla mostrou que o pessoal de tênis de marca está em sintonia com os bandidos pés-de-chinelo do morro. Universitário de 20 anos e morador de Icaraí, bairro chique de Niterói, Elton Gomes da Silva trocava a sala de aula pelo Morro do Estácio (na região central do Rio), onde, segundo a polícia, atuava como braço direito do bandido Anão, conhecido por decapitar suas vítimas. Elton, que desfilava de fuzil pelo morro, faria a ligação com os outros bandidos de classe média, abastecendo-os com cocaína e maconha, vendidas na orla carioca. Os endereços dos presos dão uma idéia de aonde o crime chegou. Carlos Augusto da Silva Ferreira, de 27 anos, o Carlinhos, foi preso no Leme, zona sul. Guilherme Martins de Lemos Bastos, de 18 anos, foi encontrado em casa, em Icaraí. O último preso, Anderson Pereira, morava na Ilha do Governador — ironicamente, numa rua chamada Grana.

Geralmente, a droga é o caminho para os jovens se envolverem com crimes pesados, como arrastões em prédios. Antes de uma operação, sempre existem dois ou três informantes, que passam para a quadrilha a rotina do prédio e dos moradores. "Geralmente, é um rapaz ou moça de classe média que mora por ali, que observa tudo sem levantar suspeitas", conta Eron Feitosa, especialista em segurança de condomínios da empresa Cooperminio. "É alguém que está envolvido com a quadrilha e oferece o serviço para pagar dívidas", diz. Daí para a execução do crime é um passo. Uma das histórias mais emblemáticas é a de Pedro Machado Lomba Neto, conhecido como Pedro Dom. Loiro de olhos azuis, ele foi morto aos 23 anos pela polícia carioca. Filho da classe média local, era viciado em cocaína e roubava para sustentar o vício e a estruturado tráfico montada por amigos bandidos. ä Apesar de não ser traficante, era membro da facção Amigos dos Amigos (ADA) e vivia refugiado nas favelas. A polícia diz que ele liderou ao menos 15 assaltos a casas e condomínios de luxo no Rio nos últimos dois anos.

Em agosto, a Polícia Militar paulista prendeu na Baixada Santista uma quadrilha de jovens — três maiores e um menor de idade — de um bairro nobre de São Vicente. Marcus Vinicius Lukic Veron Guimarães, de 23 anos, é filho de um ex-vereador. Eles foram pegos em flagrante e autuados por roubo qualificado e formação de quadrilha. O grupo roubava carros e, numa ocasião, fez seis reféns, incluindo duas crianças, num assalto a uma residência. Além de levar aparelhos eletroeletrônicos, jóias, dinheiro e cartões de banco, os rapazes ameaçaram matar um menino de 4 anos. "Embora não tão freqüentes, esses casos são preocupantes", diz o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado, de São Paulo.

Muitos desses bandidos fazem parte do convívio social das vítimas. A polícia de São Paulo no momento investiga um personal trainer conhecido na alta sociedade que furtava as mansões de seus clientes. O suspeito foi flagrado pelas câmeras de uma das residências. Surpreendido pela denúncia, tentou o suicídio e foi hospitalizado. No Espírito Santo, a polícia também desmantelou uma quadrilha de universitários abastados que se dedicava a seqüestros relâmpagos. É evidente que o dinheiro não é o principal motivo para levar esses garotos ao submundo. "Crimes violentos são de alto risco e baixa lucratividade", diz o sociólogo Ignacio Cano, da Uerj. "O que faz diferença nesses casos não é o elemento moral, mas a oportunidade — e a idéia de impunidade."
ESTUDANTES

Só neste ano, a polícia paulista prendeu 180 jovens universitários por tráfico ou associação, o triplo do ano passado

Holanda
José Joaquim Vieira da Silva Júnior, 28,
preso em São Paulo, é acusado de trazer droga de Amsterdã

Comércio
Márcio Albuquerque Lavor, 31,
foi investigado durante um mês pelo Denarc. Revendia drogas da Europa

Novidade
Mário Henrique Paiva Paciello, 28,
universitário, vendia a droga sintética conhecida como "cápsula do medo"

Ecstasy
Thiago de Jesus Aren, 19,
estudante de Direito, preso numa operação policial num bairro nobre de SP

Variedade
Wilmer da Cruz Arrais, 19,
foi preso vendendo pastilhas de ecstasy em latinhas do energético Redbull

Cocaína no bucho de boi
Sandra, sócia do Satyricon, acusada de lavar dinheiro da quadrilha do ex-marido

Operação Orla
Carlos Augusto Ferreira foi preso vendendo drogas nas praias cariocas

Big brother
O empresário Edilson Buba, ex-participante do reality show, foi preso no aeroporto de Curitiba com maconha e ecstasy

Boa família
Rogério Carreteiro, 24, filho de advogada e Marco Hurtado Júnior, 26, filho de coronel do Exército, com mesada de R$ 2 mil, foram presos por tráfico

Foro privilegiado
Daniel de Mello e Souza foi pego com 580 comprimidos de ecstasy em Brasília. Neto do presidente do Tribunal de Justiça do DF, responde em liberdade

Bola
Edinho (de azul), filho de Pelé, foi preso com o amigo Naldinho (de touca) por envolvimento com o tráfico de cocaína

Zona sul
Maurício Chaves da Silveira, o Mauricinho Botafogo, 25, foi ladrão de residências, antecessor de Pedro Dom

Boa pinta
Pedro Dom passou de viciado a assaltante de prédios — e acabou morto pela polícia
Divisão social da bandidagem Como a classe média se envolve no crime

Estelionato: é um dos crimes que mais têm o envolvimento da classe média. Crackers, por exemplo, invadem sites de bancos e roubam dinheiro dos clientes. Em agosto, a Polícia Federal prendeu mais de cem suspeitos em sete Estados e no Distrito Federal

Corrupção: a classe média sempre se envolveu nesse tipo de crime pagando propina ou subtraindo dinheiro dos cofres públicos ou de empresas. O político Paulo Maluf foi preso sob essa acusação

Assalto: casos pontuais são registrados pela polícia. Nas estatísticas gerais de roubos, não representam muito. Mas assustam demais a classe média. O caso de Pedro Dom é o exemplo mais recente

Homicídio: há décadas a classe média se envolve em assassinatos, principalmente em casos passionais. Histórias recentes, como a da ex-universitária e rica Suzane Richthofen, mostram que esse tipo de crime "evoluiu" para filhos matando pais e vice-versa

Tráfico: o mais comum é o envolvimento de jovens com o comércio de drogas sintéticas. Mas há casos de famosos integrantes de grupos de narcotraficantes de maconha e cocaína, como o ex-jogador de futebol Edinho, filho de Pelé

Seqüestro e arrastão em prédios: não é comum a participação da classe média na execução. Mas é cada vez mais comum o envolvimento de jovens consumidores de drogas na fase de preparação do crime, vendendo informações sobre os vizinhos

Ex-traficante internacional
José Estrella, filho de executivo de banco, tinha conexões com bandidos da Holanda

A ocasião faz o ladrão

Fatores que podem levar um jovem de classe média ao crime

1º) Desejo de bens de consumo inalcançáveis — Por mais dinheiro que possa ter, não realiza todos os sonhos de consumo. Acostumado a ter praticamente tudo desde a infância, o jovem não suporta a pressão e pode optar pelo crime

2º) Gosto pela transgressão — Os jovens têm uma tendência natural à transgressão. O esvaziamento político e ideológico, além das falhas educacionais, transforma o tráfico e o crime na forma mais fácil de cometer uma transgressão

3º) Glamourização do crime — Pesquisadores consideram que a mídia glamouriza o criminoso de classe média. Enquanto o bandido pobre dificilmente rende notícia, o de classe média aparece rapidamente nos jornais

4º) Desestruturação familiar — Sem uma base familiar sólida, o indivíduo vive uma crise de valores. Tem mais dificuldade para identificar o que é o direito do outro

5º) Ostentação de poder — Vivendo em uma sociedade que valoriza o espetáculo, o jovem é tentado a conquistar poder a qualquer custo e pertencer a um mundo que não é apenas "mediano"

6º) Estagnação profissional — Frustrado por não ter conseguido alcançar por meios lícitos o nível de vida idealizado e sem perspectivas na carreira, o jovem pode tentar subir por caminhos aparentemente mais fáceis




Traficantes de classe

Como as drogas sintéticas mudaram o perfil-padrão do bandido

SÃO PAULO
Só neste ano, a polícia prendeu 180 universitários ligados ao tráfico de ecstasy no Estado. No ano passado, os casos passaram de 60

RIO DE JANEIRO
A classe média domina 90% do tráfico de drogas sintéticas. Os 10% restantes vão para o morro pelas mãos da classe média

Na Barra da Tijuca, onde a renda média familiar é de R$ 5.700, estima-se que 40% dos condomínios de prédios tenham pontos de venda de droga, alguns dirigidos por moradores

GOIÁS
A cada festa ou rave freqüentada por jovens da classe média há de 30 a 50 detenções por uso de drogas sintéticas. Em média, dois ou três desses presos são traficantes

SANTA CATARINA
Segundo a Polícia Federal, uma investigação feita no ano passado revelou 150 pessoas de classe média envolvidas com o tráfico. Trinta foram presas

Só pretos e pobres

Polícia do Rio continua abordando "suspeitos" apenas com base em preconceito de raça e classe

A classe média tem um aliado na invasão do submundo dos crimes, como o tráfico de drogas. A abordagem de suspeitos feita pela polícia do Rio de Janeiro segue o padrão do preconceito, excluindo os brancos e bem vestidos. Essa é a conclusão de um estudo inédito publicado no livro Elemento Suspeito, de Silvia Ramos e Leonarda Musumeci, do Cesec, da Universidade Cândido Mendes.

A pesquisa contou com 2.250 entrevistas domiciliares, além de grupos de discussão com universitários e jovens do ensino médio e consultas a policiais militares de cinco batalhões cariocas. O objetivo foi entender a distorção que faz com que negros sejam os mais parados nas blitze e "duras", em geral, realizadas dentro ou perto de favelas.

José Junior, de 37 anos, negro, habitual freqüentador de favelas no Rio, é reiteradas vezes abordado. Lembra de um dia em que foi parado 13 vezes, em apenas seis horas. Ele tem as características do suspeito-padrão da polícia, mesmo sem ter relação com crimes. Junior é idealizador e coordenador da ONG Afroreggae, uma das mais bem-sucedidas iniciativas sociais do país.

Apesar de ser minuciosamente planejadas, com até duas semanas de antecedência, as blitze não têm critério. O controle do que é apreendido inexiste. "Costumamos dizer que o policial usa o índice IGCC para determinar quem vai ser abordado: idade, gênero, cor e classe", explica Silvia. O suspeito-padrão, conforme as entrevistas com policiais e civis, é jovem, do sexo masculino, negro e pobre.

Além de apontar a questão, o estudo visa a buscar iniciativas para melhorar a relação da polícia com o cidadão. O Cesec uniu-se ao Afroreggae e, há dois anos, faz oficinas culturais com a polícia. Só que em Minas Gerais. "Tentamos implantar o projeto no Rio, mas a polícia daqui é historicamente fechada", relata Silvia. As pesquisadoras prepararam uma palestra para apresentar os resultados nos batalhões. Até agora, não obtiveram permissão.

Rafael Pereira

Tipo suspeito

Perfil do cidadão parado para revista no Rio de Janeiro ivaney Delegado investiga universitários

Sexo: masculino
Idade: entre 15 e 24 anos
Cor de pele: negra
Renda: de 1 a 3 salários mínimos
Onde mora: dentro ou perto de favelas
situação suspeita

Em que ocasiões o policial aborda o carioca

Carro particular em blitz
A pé na rua
Ônibus ou trem
Carro particular sem blitz
Van ou kombi

Reportagem da Revista Época!!
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI82625-15228,00-O+CRIME+MORA+NA+CLASSE+MEDIA.html

A Vergonha do Rio de Janeiro


Rio de Janeiro - O Iraque é aqui
 
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, sede olímpica de 2016, uma das sedes da Copa do mundo de 2014, uma das cidades mais belas do mundo, um Estado rico em recursos naturais com uma das maiores produções de pretóleo do país. Tudo seria uma maravilha se não fosse o descaso das autoridades com relação a segurança pública. Anos e anos, governos e governos e ninguém muda nada.

O Estado mais violento do país relega aos seus policiais o PIOR salário do Brasil.

Sr. Sérgio Cabral como exigir eficiência de um policial que recebe 941,00, mora mal, se alimenta mal, descansa mal, pois tem que fazer bico pra sobreviver, em contato direto com a criminalidade e assediado de todas as formas?

941,00... Vendedor de picolé em Copacabana ganha mais que isso... (com todo o respeito aos nossos valorosos vendedores de picolé de praia, atividade esta importantíissima para garantir o pleno lazer do cidadão carioca...)

A segurança pública no Rio de Janeiro vale menos que isso.

Vamos deixar de hipocrisia. Alguns é claro que dizem que uma pessoa desonesta ganhando pouco ou muito sempre será desonesta, mas com um salário desses, o governo do Estado do Rio de Janeiro praticamente obriga a polícia ser desonesta.

941,00 é o que vale a vida dos cidadãos do Rio de Janeiro.

Veja a tabela VERGONHOSA de salários da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.



Acusada de fazer 10 mil abortos é achada morta em MS

Acusada de fazer 10 mil abortos é achada morta em MS
Agência Estado


EX-MÉDICA
Neide perdeu o diploma neste ano e iria a júri popular

Acusada pela realização de 10 mil abortos na clínica que possuía no centro de Campo Grande (MS), a ex-médica anestesiologista Neide Mota Machado foi encontrada morta no domingo (29). Ela estava com uma seringa hipodérmica em uma das mãos, dentro de um carro. Pelas circunstâncias em que ocorreu a morte, a Polícia Civil trabalha com a hipótese de homicídio.

Proprietária de uma chácara no bairro Chácaras do Poder, ela havia ido ontem de carro até a vizinha Chácara Capril Primavera, onde costumava comprar leite de cabra, e parou na entrada do imóvel. Quando funcionários do local se aproximaram do veículo, encontraram Neide morta.

O advogado da ex-médica, Ewerton Bellinati, diz não ter notado alterações no comportamento de sua cliente nos últimos dias. Ela seria levada a júri popular para responder por 25 abortos, dos 10 mil arrolados na acusação feita à Justiça pelo Ministério Público Estadual. Do total, a maioria foi desconsiderada pela não localização das pacientes e por vencimento de prazo para os procedimentos judiciais. Neide havia sido presa em julho de 2007 e, em julho deste ano, teve seu diploma cassado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Médicas são punidas por realizar abortar crandestinos

Punidas por abortar

CLARA (nome trocado),CLARA (nome trocado),
que cumpre pena em Campo Grandeque cumpre pena em Campo Grande

“Fale baixo, ninguém sabe dessa história”, diz Clara, de 31 anos. Suas mãos tremem enquanto ela manda os dois filhos para o quarto. A casa simples tem apenas três cômodos e fica em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Do outro lado da cidade, em uma residência grande e confortável, Cláudia, de 18 anos, e sua mãe, Giovana, também pedem discrição. “Vamos conversar aqui na sala, o restante da família não sabe o que aconteceu”, diz a mãe da menina. Medo, angústia e vergonha são sentimentos em comum relatados também por Laura, de 17, Ana, de 38, e Luíza, de 24. Essas cinco mulheres (todas com o nome trocado, para proteger sua privacidade) foram acusadas pela Justiça de cometer aborto. Pela lei brasileira, a mulher que aborta está sujeita a pena de um a três anos de detenção.

O médico ou outro responsável pelo procedimento pode pegar de um a quatro anos de reclusão. As exceções são para casos de estupro e quando a gestação oferece risco de morte à mãe – nesses casos, a lei permite encerrar a gravidez. Para escapar da exposição de um júri popular, essas cinco mulheres aceitaram um acordo processual. Submeteram-se à pena alternativa de prestação de serviços à comunidade. Elas fazem parte do maior processo conjunto que o país já teve contra mulheres que abortaram. Ao todo, são 2.800 fichas médicas nas mãos do juiz da 2a Vara do Tribunal do Júri de Mato Grosso do Sul, Aloísio Pereira dos Santos. Também é a primeira vez que mulheres são acusadas por aborto sem um flagrante policial. A apreensão das fichas aconteceu em 13 de abril de 2007, ao ser desmantelada uma clínica de planejamento familiar, no centro de Campo Grande, onde aconteceriam abortos clandestinos. Nenhuma paciente foi encontrada no local, mas os exames positivos de gravidez e as fichas apreendidas tornaram-se a prova do crime. O inquérito foi instalado. De lá para cá, 25 mulheres foram formalmente acusadas.
"Fui até a clínica em busca de orientação. Mas quando a médica soube que eu era faxineira, me deu as costas e mandou as funcionárias resolver meu problema. Nunca vou esquecer a humilhação"

A proibição do aborto é uma das maiores polêmicas da sociedade brasileira. O Brasil tem mais de 1 milhão de abortos clandestinos por ano, segundo estimativa da ONG Ipas Brasil, ligada à saúde reprodutiva. Essa seria a terceira causa de morte materna no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2006, cerca de 230 mil mulheres sofreram complicações durante o procedimento. De um lado, associações feministas e vários advogados e médicos acreditam que o aborto é uma opção pessoal e deveria ser legalizado. De outro, religiosos e entidades de proteção à família consideram os fetos em desenvolvimento indivíduos com direitos próprios, sendo o principal deles o direito à vida. O debate está em pauta. Na semana passada, a Câmara dos Deputados votou um dos 17 projetos de lei sobre o tema. O projeto, de 1991, propunha a revogação do artigo que penaliza as mulheres, mas o relator, o deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM/SP), mudou o texto para manter a lei como está. Assim, as penas das cinco mulheres entrevistadas por ÉPOCA serão mantidas: 52 dias de dedicação a trabalhos gratuitos à comunidade.

A rotina das mulheres condenadas por aborto é sigilosa e, muitas vezes, constrangedora. Ana sai de casa todos os dias às 5 horas. Antes de entrar no trabalho, ela é obrigada a fazer faxina em uma creche. O chefe não sabe as razões de seus atrasos. “Quem vai querer uma funcionária que faz serviço comunitário porque fez um aborto?”, diz. Ana nega que tenha se submetido ao procedimento intencionalmente. “Perdi o filho por excesso de esforço físico.” Laura e Luíza também não assumem a prática. Elas relatam histórias diferentes para explicar a perda do bebê, como andar muito de bicicleta e subir escadas. Apenas Cláudia admite que fez um aborto por causa de uma gestação indesejada. Os relatos dessas mulheres fichadas na clínica de planejamento familiar possuem apenas um ponto em comum. Todas afirmam ter passado pelas mãos da médica anestesista mineira Neide Mota Machado, de 54 anos. Ela era a dona da clínica e a única médica a atuar no local.

Neide se diz “defensora dos direitos reprodutivos da mulher” e nega ter feito abortos clandestinos. “Só fiz procedimentos legais, como aborto em vítimas de estupro”. Formada em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba, a médica possui uma trajetória curiosa. Para conseguir sair de casa, casou-se com o coveiro da cidade. “Meu pai era muito relapso com a família. Ele nos deixou passar fome”. Depois de se formar e largar o marido, ela conta que foi morar no Rio de Janeiro para fazer residência em anestesiologia. Hoje viúva, a médica expõe suas razões para não ter tido filhos. “O que temos para oferecer a uma criança neste mundo em que há competição, violência e corrupção? As pessoas são como os macacos. Colocam crianças no mundo só porque todos têm”. Para ela, isso explica casos como o de Isabella Nardoni, a menina de 5 anos assassinada em março, em São Paulo. “Isabella não veio de uma gravidez desejada. O que fizeram com ela? Jogaram-na pela janela.” Neide afirma ter-se decepcionado com a profissão de anestesista e decidido fazer um curso de Planejamento Familiar, na Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo. A Unicamp não tem registro de Neide como aluna. Diz que o curso a que ela se refere era apenas um treinamento de um mês. De Campinas, ela teria seguido para Campo Grande, onde a mãe morava. Lá, abriu a clínica em uma das principais ruas da cidade. Em duas décadas, Neide atendeu 9.886 pacientes. Entre elas estão as 2.800 mulheres que também podem ser processadas.
As mais pobres recebiam abortivos e eram orientadas a procurar o hospital em caso de hemorragia
O Ministério Público acusa a médica de ter lucrado quase R$ 8 milhões com a prática de abortos ilegais. “Cerca de 70% das mulheres iam à clínica para se informar sobre aborto. As investigações mostram que ao menos metade delas interrompeu a gravidez”, diz o promotor do caso, Paulo Cezar dos Passos. A primeira investigação sobre a clínica, baseada em denúncias anônimas, aconteceu há três anos. A polícia só conseguiu permissão judicial para fechar o local depois de uma reportagem de televisão, no ano passado. Dois produtores da TV Morena, filiada da Rede Globo, foram com câmeras escondidas e conseguiram gravar uma funcionária cobrando R$ 5 mil por um aborto que seria praticado por Neide. “Encontramos medicamentos abortivos (alguns para induzir o aborto em porcos e cavalos), equipamentos clínicos para curetagem, três instrumentos de sucção e até um triturador de fetos”, diz a delegada Regina Márcia Rodrigues de Brito, responsável pelo caso. Entre os remédios apreendidos estavam 27 caixas de Cytotec – o misoprostol, uma substância considerada abortiva, cuja venda é proibida no país. Neide se defende das acusações. “A polícia fez a busca e apreensão sem minha presença. Agora, eles podem afirmar qualquer coisa.” Ultra-sonografias que comprovam as gravidezes e termos de declaração em que mulheres concordaram em fazer uma curetagem também foram apreendidos. “Se elas estavam grávidas, foram consultadas na clínica e não tiveram os filhos, onde estão as crianças? Onde estão as provas de que elas sofreram abortos espontâneos e fizeram a curetagem em outros hospitais?”, diz o promotor.

As 25 mulheres punidas acusam Neide de ter praticado aborto nelas ou ter tentado induzi-las ao ato. “A médica riu de minha cara quando perguntei o que ela indicava para meu caso. Ela me disse que lá era um lugar apenas para fazer aborto”, afirma Clara. Ela diz que o valor inicial cobrado pela médica era de R$ 8 mil. Como não tinha condições de pagar, o preço baixou para R$ 1.000. Na ficha da moça, está escrito “banguela”. Ela tem os dentes perfeitos – o termo seria usado na clínica para se referir às mulheres de baixa renda. “As mais pobres tomavam apenas remédios abortivos, como o Cytotec, e eram orientadas a procurar hospitais públicos quando começassem a ter hemorragia”, diz a delegada. Clara também afirma que foi vítima de preconceito. Havia uma espécie de questionário anexado à ficha das pacientes. Nele, eram registradas informações sobre a aparência, o meio de locomoção, visão moral e religiosa e até observações estapafúrdias, como o “grau de arrogância” da paciente. “Na clínica, tinha uma placa que dizia: planejamento familiar. Fui até lá em busca de orientação. Mas, quando a médica soube que eu era faxineira, me deu as costas e mandou as funcionárias resolver meu pepino. Nunca vou esquecer a humilhação”, diz Clara.

Duas entrevistadas acusam a médica de mentir sofre o feto. Laura diz que estava feliz com a gravidez, mas o namorado não. Ela afirma que tomou Cytotec comprado pelo namorado, mas o remédio não funcionou. “Eu me arrependi e quis buscar ajuda. Fui ao local para fazer uma ultra-sonografia e ver como a criança estava”. A médica teria dito à moça que o feto estava deformado e poderia matá-la. Teria dito ainda que o bebê acabaria morrendo. O namorado de Laura teria pago R$ 3.500 pelo aborto. Outra acusação vem de Luíza. “Eu e meu namorado estávamos felizes com a gravidez. Mas tive uma hemorragia e busquei essa clínica, que era perto de minha casa.” Novamente Neide teria aconselhado a curetagem para retirar os restos do feto. “Ela disse que eu poderia morrer de infecção.”

Ao ser convocada para depor na delegacia, Luíza soube por meio da ultra-sonografia apreendida que seu bebê estava vivo antes da curetagem. “Não consigo parar de pensar nessa história. Parei de trabalhar e sofro de depressão. Nem saio de casa. Tenho muito medo de o oficial de justiça me procurar e revelar tudo para minha família.” A médica negou o procedimento mais uma vez. “Essas meninas sofreram aborto espontâneo. Fiz uma curetagem para retirar restos do feto. Se não fizesse isso, elas perderiam o útero.” Neide atribui o fechamento de sua clínica a uma perseguição política. Ela diz que foi punida por ter denunciado a ex-funcionária Zenaide Correa, sua ex-secretária. Desde 2004, um inquérito policial investiga a fraude de cheques e desvios de dinheiro da conta bancária da médica em favor de Zenaide. ÉPOCA teve acesso ao inquérito contra Zenaide, no qual constam cheques falsificados pela ex-secretária. Apesar de ter sido braço direito de Neide, Zenaide não foi denunciada por crimes de aborto. Hoje, ela trabalha no gabinete do governador do Estado, André Puccinelli (PMDB-MS). Ao ser indagado sobre o motivo de ela não constar das investigações, o promotor afirmou que as mulheres atendidas na clínica antes de 2007 serão investigadas e que “Zenaide Correa também será denunciada”. ÉPOCA procurou Zenaide em sua casa e no trabalho, sem encontrá-la. Ela não respondeu a nenhum dos recados e telefonemas da reportagem. O procurador-geral de Mato Grosso do Sul, Rafael Goldibelli, disse que a “denúncia é mera especulação”, mas, se a funcionária estiver envolvida em abortos ilegais, poderá ser afastada.
PROVAS DO CRIME
Quase 10 mil mulheres passaram pela clínica de Neide Mota em duas décadas. Além das fichas, foram apreendidos pela polícia medicamentos abortivos, ultra-sonografias de gravidez e até um triturador de fetos

O processo contra Neide poderá levar anos para ser julgado. Um habeas corpus concedido em agosto de 2007 garante que ela aguarde o julgamento em liberdade. Por enquanto, só ex-pacientes da clínica foram punidas. Isso é comum: a balança de processos por aborto pende mais para o lado das mulheres que para os médicos. “Elas são mais expostas porque, depois que começam o aborto em casa ou em uma clínica, procuram a ajuda de terceiros ou correm para o hospital. E aí são denunciadas”, diz a advogada Ana Paula Sciammarella, da ONG Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos (Advocaci). Uma pesquisa que ela ajudou a realizar, no Rio de Janeiro, mostra que, em 147 inquéritos contra mulheres que fizeram aborto, entre 1990 e 2004, apenas 93 médicos foram investigados. Desses 147 inquéritos, 11 resultaram em ações judiciais. Três mulheres foram presas ao procurar auxílio médico. Uma delas passou dois meses detida. Para Laura, condenada no processo de Campo Grande, há uma sensação de injustiça que a impede de superar o trauma do aborto. “Eu e minha mãe fomos penalizadas. Como sou menor de idade, é ela quem faz as faxinas em uma escola. Duvido que algo aconteça com os outros envolvidos”.

A pena à qual foram sujeitas também é questionada. O juiz Aluízio Pereira dos Santos afirma que a decisão foi proposital, para fazê-las refletir sobre a maternidade. “Se elas forem trabalhar em creches e escolas, vão ver que muitas mulheres podem criar um filho com um pouco de esforço”, diz. “Mandar mulheres que abortaram recentemente trabalhar com crianças é uma tortura moral e afetiva”, diz a antropóloga Debora Diniz, diretora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, em Brasília, defensora da descriminalização do aborto.




Uma comissão de quatro entidades de defesa da mulher e do aborto está organizando mobilizações pelo não-indiciamento das outras 2.800 mulheres. A socióloga Natália Mori, diretora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, diz que, desde a ação em Campo Grande, houve uma onda de batidas policiais em clínicas de aborto no país. Por enquanto, nenhuma delas investigou as fichas médicas. Mas o temor das entidades é que o episódio de Mato Grosso do Sul abra precedentes para que outras acusações sem flagrantes se espalhem pelo país. Se isso acontecer, todas as brasileiras fichadas em clínicas de aborto ilegal correrão o risco de também serem criminalizadas.
Quem é punido por aborto?
No Brasil, não há dados sobre o número total de penas contra mulheres que abortaram. Uma pesquisa no Rio de Janeiro confirma a avaliação de especialistas: as mulheres são mais denunciadas que os médicos


 
Reprotagem da revista Época!!
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI4447-15228-2,00-PUNIDAS+POR+ABORTAR.html

Aids caminha para o interior do país, revela Ministério da Saúde

Aids caminha para o interior do país, revela Ministério da Saúde
Do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo

Os grandes centros urbanos do país, onde hoje estão concentrados 52% dos casos de Aids, registraram queda de 15% na taxa de incidência da doença entre 1997 e 2007. No entanto, a incidência nos municípios com menos de 50 mil habitantes dobrou, revelando que a epidemia caminhou para o interior do país. Os dados, do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009, foram divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Ministério da Saúde.

Em 1997, a taxa nas cidades com menos de 50 mil habitantes era cerca de oito vezes menor do que a registrada nas cidades com mais de 500 mil pessoas. Em 2007, essa relação caiu para três vezes.
Em municípios com mais de 500 mil pessoas, houve decréscimo da taxa de incidência, entre 1997 e 2007, de 32,3 para 27,4 notificações por 100 mil habitantes. No mesmo período, a taxa nas cidades com menos de 50 mil habitantes passou de 4,4 ocorrências em 1997 para 8,2 em 2007.

Regiões

Dos 100 municípios com mais de 50 mil habitantes que apresentam maior taxa de incidência de Aids, os 20 primeiros da lista estão no Sul. A primeira colocada é Porto Alegre (RS) com taxa de incidência de 111,5 por 100 mil habitantes, seguida por Camboriú (SC) com 91,3.

A tendência de crescimento de Aids nas cidades menores e queda nas maiores confirma-se nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. O Norte e o Nordeste apresentam um perfil diferente: ocorre aumento da taxa de incidência, quando se compara 1997 com 2007, tanto em municípios grandes quanto em pequenos.

“Os dados justificam a necessidade de contínuo investimento em ações descentralizadas, respeitando as especificidades de cada local, sem perder o foco de que a epidemia, no Brasil, é concentrada”, destaca a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Mariângela Simão.
Total de casos
De 1980 a junho de 2009, foram registrados 544.846 casos de Aids no Brasil. Durante esse período, 217.091 mortes ocorreram em decorrência da doença. Por ano, são notificados entre 33 mil e 35 mil novos casos de Aids. Em relação ao HIV, a estimativa é que existam 630 mil pessoas infectadas no país.

Mais meninas

Em 1986, início da epidemia de Aids no Brasil, havia 15 casos de Aids em homens para cada caso em mulheres. A partir de 2003, a proporção mudou: para cada 15 casos em homens, existem 10 em mulheres.

Já entre jovens de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as meninas. A inversão vem desde 1998, com 8 casos em meninos para cada 10 casos em meninas.

Entre homens, a taxa de incidência em 2007 foi de 22 notificações por 100 mil habitantes e, nas mulheres, de 13,9. Em ambos os sexos, as maiores taxas de incidência se encontram na faixa etária de 25 a 49 anos.

Transmissão

O boletim mostra que há uma tendência de estabilização na proporção de casos entre homens que fazem sexo com homens: a média é de 28% da proporção de casos registrados entre os homens, a partir de 2000.

Entre jovens gays na faixa etária de 13 a 24 anos, também houve aumento na proporção de registros: passou de 29,0%, em 1997, para 43,2%, em 2007.

A transmissão por drogas injetáveis apresentou uma acentuada queda no número de casos da doença, tanto em homens (de 22,6%, em 1997, para 7,4%, em 2007), quanto em mulheres (de 10,2%, em 1997, para 2,6%, em 2007).esse percentual alcançou 96,9%.

De mãe para o bebê

O Brasil reduziu em 41,7% a incidência de casos de Aids em crianças menores de cinco anos de idade. O coeficiente de mortalidade também caiu cerca de 70% (em 1997, era de 2 por 100 mil habitantes, caindo para 0,6, em 2007). A queda na taxa de transmissão da mãe para o bebê é resultado dos cuidados no pré-natal e pós-parto.

Mortalidade

A mortalidade por Aids vem se mantendo estável no país, a partir de 2000, em torno de 6 mortes por 100 mil habitantes.

Nos últimos oito anos, as mortes por Aids em homens caíram e em mulheres se mantiveram estáveis. Em homens, há diminuição de óbitos a partir de 1998 (de 9,6 registros por 100 mil habitantes para 8,1, em 2008). Em 2000, foram registrados 3,7 mortes por Aids em cada 100 mil mulheres e, em 2008, o coeficiente foi de 4,1.
SAIBA QUAIS OS MUNICÍPIOS QUE REGISTRARAM AUMENTO
Segundo o Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009, a alta foi puxada por cidades do Norte e do Nordeste. Vizinha a Belém (PA), Ananindeua lidera a lista, com crescimento de 380%. Em seguida vêm São Luís (MA; 272,1%), Teresina (PI; 254,4%), Belém (PA; 230,9%), Manaus (AM; 149,1%) e Jaboatão dos Guararapes (PE; 136,2%).

Já os municípios de São Paulo concentram os maiores percentuais de queda. Entre eles estão Ribeirão Preto (72,5%), Sorocaba (55,3%), Santo André (51,7%), Osasco (51,6%), São Bernardo do Campo (51,1%) e São José dos Campos (47,1%). A capital paulista teve queda de 45,1%, ficando em sétimo lugar entre os que mais apresentaram redução no total de casos. Leia mais
CONCENTRAÇÃO DOS CASOS DE AIDS

Sudeste 59,3% (323.069 casos)
Sul 19,2% (104.671 casos)
Nordeste 11,9% (64.706 casos)
Centro-Oeste 5,7% (31.011 casos)

Aids caminha para o interior do país, revela Ministério da Saúde

Aids caminha para o interior do país, revela Ministério da Saúde
Do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo

Os grandes centros urbanos do país, onde hoje estão concentrados 52% dos casos de Aids, registraram queda de 15% na taxa de incidência da doença entre 1997 e 2007. No entanto, a incidência nos municípios com menos de 50 mil habitantes dobrou, revelando que a epidemia caminhou para o interior do país. Os dados, do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009, foram divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Ministério da Saúde.

Em 1997, a taxa nas cidades com menos de 50 mil habitantes era cerca de oito vezes menor do que a registrada nas cidades com mais de 500 mil pessoas. Em 2007, essa relação caiu para três vezes.
Em municípios com mais de 500 mil pessoas, houve decréscimo da taxa de incidência, entre 1997 e 2007, de 32,3 para 27,4 notificações por 100 mil habitantes. No mesmo período, a taxa nas cidades com menos de 50 mil habitantes passou de 4,4 ocorrências em 1997 para 8,2 em 2007.

Regiões

Dos 100 municípios com mais de 50 mil habitantes que apresentam maior taxa de incidência de Aids, os 20 primeiros da lista estão no Sul. A primeira colocada é Porto Alegre (RS) com taxa de incidência de 111,5 por 100 mil habitantes, seguida por Camboriú (SC) com 91,3.

A tendência de crescimento de Aids nas cidades menores e queda nas maiores confirma-se nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. O Norte e o Nordeste apresentam um perfil diferente: ocorre aumento da taxa de incidência, quando se compara 1997 com 2007, tanto em municípios grandes quanto em pequenos.

“Os dados justificam a necessidade de contínuo investimento em ações descentralizadas, respeitando as especificidades de cada local, sem perder o foco de que a epidemia, no Brasil, é concentrada”, destaca a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Mariângela Simão.
Total de casos
De 1980 a junho de 2009, foram registrados 544.846 casos de Aids no Brasil. Durante esse período, 217.091 mortes ocorreram em decorrência da doença. Por ano, são notificados entre 33 mil e 35 mil novos casos de Aids. Em relação ao HIV, a estimativa é que existam 630 mil pessoas infectadas no país.

Mais meninas

Em 1986, início da epidemia de Aids no Brasil, havia 15 casos de Aids em homens para cada caso em mulheres. A partir de 2003, a proporção mudou: para cada 15 casos em homens, existem 10 em mulheres.

Já entre jovens de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as meninas. A inversão vem desde 1998, com 8 casos em meninos para cada 10 casos em meninas.

Entre homens, a taxa de incidência em 2007 foi de 22 notificações por 100 mil habitantes e, nas mulheres, de 13,9. Em ambos os sexos, as maiores taxas de incidência se encontram na faixa etária de 25 a 49 anos.

Transmissão

O boletim mostra que há uma tendência de estabilização na proporção de casos entre homens que fazem sexo com homens: a média é de 28% da proporção de casos registrados entre os homens, a partir de 2000.

Entre jovens gays na faixa etária de 13 a 24 anos, também houve aumento na proporção de registros: passou de 29,0%, em 1997, para 43,2%, em 2007.

A transmissão por drogas injetáveis apresentou uma acentuada queda no número de casos da doença, tanto em homens (de 22,6%, em 1997, para 7,4%, em 2007), quanto em mulheres (de 10,2%, em 1997, para 2,6%, em 2007).esse percentual alcançou 96,9%.

De mãe para o bebê

O Brasil reduziu em 41,7% a incidência de casos de Aids em crianças menores de cinco anos de idade. O coeficiente de mortalidade também caiu cerca de 70% (em 1997, era de 2 por 100 mil habitantes, caindo para 0,6, em 2007). A queda na taxa de transmissão da mãe para o bebê é resultado dos cuidados no pré-natal e pós-parto.

Mortalidade

A mortalidade por Aids vem se mantendo estável no país, a partir de 2000, em torno de 6 mortes por 100 mil habitantes.

Nos últimos oito anos, as mortes por Aids em homens caíram e em mulheres se mantiveram estáveis. Em homens, há diminuição de óbitos a partir de 1998 (de 9,6 registros por 100 mil habitantes para 8,1, em 2008). Em 2000, foram registrados 3,7 mortes por Aids em cada 100 mil mulheres e, em 2008, o coeficiente foi de 4,1.
SAIBA QUAIS OS MUNICÍPIOS QUE REGISTRARAM AUMENTO
Segundo o Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009, a alta foi puxada por cidades do Norte e do Nordeste. Vizinha a Belém (PA), Ananindeua lidera a lista, com crescimento de 380%. Em seguida vêm São Luís (MA; 272,1%), Teresina (PI; 254,4%), Belém (PA; 230,9%), Manaus (AM; 149,1%) e Jaboatão dos Guararapes (PE; 136,2%).

Já os municípios de São Paulo concentram os maiores percentuais de queda. Entre eles estão Ribeirão Preto (72,5%), Sorocaba (55,3%), Santo André (51,7%), Osasco (51,6%), São Bernardo do Campo (51,1%) e São José dos Campos (47,1%). A capital paulista teve queda de 45,1%, ficando em sétimo lugar entre os que mais apresentaram redução no total de casos. Leia mais
CONCENTRAÇÃO DOS CASOS DE AIDS


Sudeste 59,3% (323.069 casos)
Sul 19,2% (104.671 casos)
Nordeste 11,9% (64.706 casos)
Centro-Oeste 5,7% (31.011 casos)

PEC 300/08 - Comissão aprova piso salarial de 4,5 mil para PMs e bombeiros

PEC 300/08 - Comissão aprova piso salarial de 4,5 mil para PMs e bombeiros

Comissão especial aprovou há pouco a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 300/08, do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que determina piso salarial nacional de R$ 4,5 mil para policiais militares (PM) e bombeiros. Também foi definido um segundo piso para o primeiro posto de oficial - 2º tenente - no valor de R$ 9 mil.

O texto original também equipara os salários dessa categoria em todo o País com o dos PMs e bombeiros do DF. No entanto, o relator da proposta, deputado Major Fábio (DEM-PB), retirou esse dispositivo por considerar que a Constituição veda a equiparação salarial.

A comissão se reunirá novamente amanhã (quarta-feira, 18) para votar três destaques ao texto aprovado. Dois foram apresentados pelo autor da PEC, Faria de Sá, retirando do texto a determinação do piso de R$ 4.500 e restabelecendo a equiparação salarial com os bombeiros e policiais militares do Distrito Federal. Ou seja, volta ao texto original.

O terceiro destaque foi apresentado pelo deputado Francisco Tenório (PMN-AL) e inclui os policiais civis nos benefícios aprovados.

A reunião da comissão especial encerrou-se há pouco devido ao início da Ordem do dia do Plenário.

AGÊNCIA CÂMARA

Postado por Melquisedec Nascimento 

PEC 41 piso salarial PM e BM aprovada na CCJ do Senado

PEC 41 – piso salarial PM e BM – aprovada na CCJ do Senado
Em: Bombeiro Militar, Polícia Militar
Autor: Danillo Ferreira    
     
Enquanto os policiais e bombeiros militares de todo o Brasil discutem e sonham com a Proposta de Emenda Constitucional de número 300 (PEC 300), o Senado Federal aprovou hoje, na Comissão de Constituição e Justiça, a PEC 41, que estabelece a criação de um piso nacional de salário para policiais e militares do Corpo de Bombeiros. Leiam o texto divulgado pela Agência Brasil:          

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (4/11) proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece a criação de um piso nacional de salário para policiais e militares do Corpo de Bombeiros. Se for aprovado pelo Congresso Nacional, o valor do piso será estabelecido por lei ordinária e deverá entrar em vigor num prazo máximo de um ano após a promulgação da PEC.

O texto também cria um fundo para que a União socorra estados e municípios que tenham dificuldades orçamentárias para viabilizar o pagamento do piso nacional aos policiais e bombeiros. A PEC agora será votada em dois turnos pelo plenário do Senado e, se aprovada, vai à apreciação da Câmara dos Deputados.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), autor da matéria, sugeriu ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que consulte os líderes para tentar viabilizar a quebra dos prazos de tramitação de uma proposta de emenda à Constituição para acelerar sua votação pela Casa.

Muitos policiais já comemoram a aprovação, mas vale questionar se medida não traz uma morte antecipada à PEC 300, que tem em seu bojo a vinculação com o salário da PMDF, que dificilmente passará pelo descaso financeiro dos governantes, por motivos óbvios. O ideal seria que a PEC 41 estabelecesse um mecanismo similar, no sentido de evitar a defasagem do piso proposto.
 
PEC 300 e PEC 41 – a fusão.
4dez2009 Em: Ronda Autor: Danillo Ferreira
Após a aprovação da PEC 41 no Senado Federal, existe uma expectativa acerca da sobrevivência da PEC 300, que mobilizou os policiais de todo o Brasil. O Deputado Federal Paes de Lira, Coronel da PMESP, é um dos parlamentares que estão engajados na luta pela PEC 300, e publicou em seu blog um vídeo em que afirma que “naturalmente”, as PEC’s vão se fundir. Além disso, traz uma boa explicação sobre as vantagens e desvantagens da PEC 41.

 
PEC 41 e PEC 300 – qual a diferença?
Depois que publiquei aqui a notícia da aprovação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal da PEC 41, que estabelece a criação de um piso nacional para as polícias brasileiras, muitas dúvidas surgiram acerca da matéria, principalmente por causa da atual mobilização em torno da PEC 300, o que está fazendo com que alguns confundam o objetivo de ambas. Primeiro, é preciso saber qual a intenção da PEC 300, aquela que originalmente gerou a atual mobilização:

“Estabelece que a remuneração dos Policiais Militares dos estados não poderá ser inferior à da Polícia Militar do Distrito Federal, aplicando-se também aos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar e aos inativos. Altera a Constituição Federal de 1988.”

Leia mais no site da Câmara.

E a PEC 41, o que ela pretende? Abaixo, o texto da Proposta, na íntegra, para que não reste dúvidas:
Percebam que a PEC 41 trata da remuneração de todos os policiais estaduais, civis, militares e bombeiros militares, enquanto a PEC 300 só se refere aos PM’s e BM’s brasileiros.

PEC 41 – Piso de R$ 1.600?

O texto de justificativa da PEC 41 traz uma sugestão de piso salarial para os policiais estaduais brasileiros:

“Alguns estudos apontam para valores em torno de R$ 1,6 mil. De fato, há unidades da federação que já remuneram seus policiais acima desse valor. Outros estados, porém, estão bem abaixo do piso proposto.”

Ora, mas comparando esse valor com os R$ 3.031,38 reais que um soldado de 2ª classe ganha na PMDF, fica claro que, a curto prazo, a PEC 300 é mais desejável. Além disso, a PEC 300 cria um vínculo fundamental para garantir a continuidade de bons proventos, que é a equiparação com os salários da PMDF. Isso gera um potencial de mobilização nacional, como está se vendo mesmo antes dela ser implementada. A PEC 41, quando delega a Lei Federal a regulamentação do piso, e do fundo federal a ser criado para suprir as possíveis necessidades dos estados, cria a dúvida em relação aos valores e à continuidade satisfatória da medida.

O Presidente Lula, em evento em que lançou o plano de carreira para policiais militares e bombeiros do Distrito Federal, assumiu estar consciente de nossas necessidades:

“A única hipótese de a gente não ter um policial levando propina da bandidagem é o policial ganhar o suficiente para ficar tranquilo.

Eu sei que corremos um risco, porque aprova aqui e os outros estados também querem. Temos que levar em conta o poder dos cofres do estado. Nem todos os estados podem dar o que deu Brasília, que tem uma condição especial. Portanto, não podemos cobrar isso que o DF fez. Não podemos cobrar isso de Roraima, de Alagoas por exemplo”

Leia tudo no G1.

Continuo olhando a PEC 41 como um boicote à PEC 300 – apesar daquela ter sido editada anteriormente a esta. Porém, o interesse do Governo em dar repercussão à PEC 41 parece ter sido maior. É possível que se a mobilização em torno da PEC 300 não existisse, a PEC 41 estivesse enfurnada no Congresso. Mas isso mostra que a mobilização sempre traz frutos positivos, e que estamos prestes a ver uma nova política de remuneração para os policiais estaduais brasileiros – notadamente nessa véspera de ano eleitoral. O que vai definir o que vamos ganhar, será nossa própria disposição em brigar por isso…
 
Aprovada a PEC 41, emenda do piso único para Polícias Civil e Militar.

Publicado em Novembro 6, 2009 por carlosrobertodia



A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou nesta quarta-feira (4) proposta de emenda à Constituição que prevê a edição de lei para fixar um piso salarial nacional para policiais civis e militares, inclusive os bombeiros militares.

O texto (PEC 41/88) determina ainda a participação da União no custeio de parte da implementação desse piso, por meio de fundo formado com receitas tributárias federais.

A proposta é do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Emenda apresentada pelo relator, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), reduziu de dois para um ano o prazo para o início da implementação gradual do piso. Resultou também de emenda do relator o ajuste que permite a inclusão os servidores dos Corpos de Bombeiros Militares.

Para antecipar o início da aplicação do piso, Demóstenes propôs que o presidente da República deverá baixar ato dando início à sua implementação gradual dentro de um ano após a promulgação da PEC.

Assim, a remuneração mínima começará a ser paga mesmo se ainda não tiver sido aprovada a lei que deve regulamentar em definitivo tanto o piso quanto o funcionamento do fundo que deve complementar o pagamento nos estados sem meios para arcar com a totalidade da nova despesa.

Como explicou Demóstenes, os recursos podem começar a ser transferidos aos estados por meio do Programa Nacional de Segurança Pública (Pronasci), dentro das prioridades estabelecidas pelo Poder Executivo.

Ele disse que fez consultas ao Ministério da Justiça para elaborar o relatório, para chegar a um texto final para a PEC que tivesse condições de ser efetivamente implementado pelo Executivo. Com relação a ser posterior fundo, explicou ainda que a lei a ser editada definirá o prazo de sua duração e o percentual das receitas necessárias.

Ao defender a PEC, Renan Calheiros afirmou que nenhum outro problema preocupa tanto a população como a segurança pública.

Segundo ele, a estrutura do aparelho policial e os salários dos servidores da área precisam condizentes com o desafio representado pelos altos índices de violência, cabendo também ao Congresso tomar providências para o enfrentamento dessa questão.

“Os policiais trabalham um dia e folgam dois, mas como não ganham o suficiente acabam vendendo esses dias para complementar renda e sustentar suas famílias. Isso não pode continuar, e é por isso que esse piso salarial precisa ser especificado por lei”, argumentou.

Demóstenes também ressaltou a necessidade de apoio às atividades dos policiais civis e militares, o que inclui a garantia de bons salários, conforme observou. Segundo ele, um dos graves problemas da segurança pública, além da estrutura policial arcaica, é a remuneração dos policiais.

“A remuneração adequada é condição para atrair e manter na carreira profissionais de qualidade, motivados e comprometidos com a segurança pública e o bem-estar do cidadão”, salientou.

Após a votação, com apoio unânime à proposta, Renan Calheiros solicitou a Demóstenes, que preside a CCJ, apoio para entendimentos com o presidente do Senado, José Sarney, no sentido de garantir rapidez no exame da matéria em Plenário, para onde o texto seguirá agora. Ele disse que já consultou os líderes de todos os partidos e há consenso para a quebra dos prazos de interstício.

O mérito da proposta foi ressaltado por quase todos os senadores que participaram da votação. Se passar em definitivo no Plenário, a matéria seguirá para tramitação na Câmara dos Deputados, onde está sendo examinada proposição de iniciativa dessa Casa para fixar piso salarial para os policiais civis e militares. Na CCJ, senadores apontaram a possibilidade de tramitação conjunta dessas duas PECs na Câmara.

Arquivado em: artigos sobre policia

http://policialdopovo.wordpress.com/2009/11/06/aprovada-a-pec-41-emenda-do-piso-unico-para-policias-civil-e-militar/

Policiais Vitimados, Sociedade Sofrida

Policiais Vitimados, Sociedade Sofrida
23 nov 2009 Em: Opinião, PMBA
Autor: Emmanoel Almeida

Segundo o Jornal A Tarde On Line, já são 18 policiais mortos esse ano na Bahia Anteontem, sábado, dia 21, um policial num assalto a ônibus em Pojuca, o Sd PM José Ferreira foi morto depois de ter sido reconhecido por assaltantes. Ontem, domingo, dia 22, outro policial-militar; desta vez, o Aluno-a-Oficial PM Mota, do último ano do Curso de Formação de Oficiais, que foi assassinado depois de ter sido reconhecido durante um assalto no Uruguai. Hoje, segunda-feira, dia 23, um policial-militar, o Sd PM Carlos Moreira, foi assassinado em Valéria.

Verdadeiramente eu não consigo pensar em outra profissão mais perigosa e estressante do que a de policial, que se envolve diretamente com os problemas sociais. Uma política de remuneração estratégica é uma diretriz estatal emergente aos órgãos ligados à segurança pública. O Estado precisa ver a Polícia como instituição merecedora de um tratamento remuneratório distinto, que possibilite ao policial exercer com tranqüilidade seu mister. Sem Segurança Pública, nenhum outro serviço público funciona plenamente.

Um salário digno muda hábitos. Se ganhasse bem, o policial selecionaria melhor os locais que freqüenta: assim, estaria mais seguro. Com um bom salário, seria mais difícil o serviço paralelo, o famoso “bico”: menos risco. Com a remuneração estratégica, o policial teria moradia melhor, transporte mais adequado, conseqüentemente, prestaria um melhor serviço à sociedade, elevaria sua auto-estima e perceberia que sua profissão é tão valorizada quanto a de muitos ainda bem remunerados no serviço público.

“Os policiais precisam reconhecer que para servir e proteger a comunidade, eles precisam primeiro estar preparados para proteger a si mesmos”. Embora Anthony Pinizzotto esteja certo, entendo que essa fase já foi concluída. Quem precisa reconhecer agora não são mais os policiais. Os governantes é quem deve equipar as Polícias, treinar os policiais e remunerar melhor estes servidores.

Anteontem, ontem e hoje partiram três colegas de fardas. Policiais que foram formados para combater o crime, mas se tornaram vítimas dele. Vitimização Policial é um assunto que está ganhando corpo na comunidade acadêmica ultimamente. A discussão vem dando nova versão a uma abordagem: policiais também são vítimas do crime.

A Vitimização Policial se torna mais relevante na medida em que perpassa e exercício regular da profissão. Embora na folga, os policiais morrem é em função do seu serviço, em função da dualidade social polícia-bandido que já está instalada.

Resta-nos uma homenagem aos nossos colegas que se foram e deixaram para nós a reflexão de que precisamos fazer algo. Vitimização Policial é um termômetro. Se ela está aumentando, é porque a sociedade está sofrida e o crime está pulando a muralha institucional, não encontrando reação estatal à altura.
Submarino.com.br
 
http://abordagempolicial.com/wp-content/uploads/2009/11/enterropm.jpg

DONO DE RÁDIO COMUNITÁRIA É ASSASSINADO NO JEQUIEZINHO

DONO DE RÁDIO COMUNITÁRIA É ASSASSINADO NO JEQUIEZINHO
 

Sebastião Galdino, morador da Rua Professora Virgínia, bairro de Jequiezinho, foi assassino com três tiros na porta de casa. O crime aconteceu às sete horas da noite de sexta feira (04). Segundo testemunhas, dois indivíduos em uma moto chamaram Sebastião e quando Ele abriu o portão foi alvejado com três disparos a queima roupa.

Galdino, como era conhecido, tinha uma rádio comunitária evangélica, Missionária FM, que estava sendo administrada pelo amigo Thiago. Os amigos informaram também que Galdino já chegou a ser evangélico, mas estava afastado da igreja.

Até o momento a polícia não tem pistas dos criminosos e nem se sabe os motivos do crime. O crime está cercado de muitos mistérios.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Brasil enfrenta Portugal na 1ª fase da Copa


04/12/09 - 16h29 - Atualizado em 04/12/09 - 17h04
Brasil cai em grupo difícil na Copa junto com Portugal e Costa do Marfim

Seleção brasileira fica no grupo G, o preferido da comissão técnica, e também enfrenta a fraca Coreia do Norte na primeira fase

Gustavo Poli, Rafael Pirrho e Zé Gonzalez
Direto da Cidade do Cabo, África do Sul

 O Brasil não deu a sorte dos últimos mundiais e caiu em um dos grupos mais difíceis da Copa do Mundo de 2010. No sorteio, que aconteceu nesta sexta-feira, na Cidade do Cabo, na África do Sul, a seleção vai enfrentar na primeira fase Portugal, de Cristiano Ronaldo, a Costa do Marfim, de Diedir Drogba, e a Coreia do Norte.

O sorteio começou bem para o time de Dunga, que caiu como cabeça de chave do Brasil do Grupo G, justamente o preferido pela comissão técnica. Desta forma, a seleção faria menos deslocamentos durante a Copa do Mundo e jogaria as duas primeiras partidas na capital Joanesburgo. O primeiro país sorteado para o grupo brasileiro também agradou: a Coreia do Norte. Mas aí os ventos parecem ter mudado de lado. E levaram Costa do Marfim e Portugal para o lado da seleção.

O Brasil estreia na Copa do Mundo no dia 15 de junho, em Joanesburgo, contra a Coreia do Norte, no estádio Ellis Park, local em que a seleção conquistou a Copa das Confederações neste ano. No dia 20 de junho, o Brasil encara a Costa do Marfim, novamente em Joanesburgo, mas no estádio Soccer City. E encerra a participação na primeira fase no dia 25 de junho contra Portugal, em Durban.

Dos adversários da primeira fase, a seleção já enfrentou em Copas do Mundo apenas Portugal. E a lembrança não é boa. Foi em 1966, quando o Brasil foi eliminado na primeira fase após perder por 3 a 1 para os portugueses.

Se ficar em primeiro lugar no Grupo G, o Brasil pode enfrentar Espanha, Itália, Argentina e Alemanha apenas na final se essas seleções também ficarem na liderança na primeira fase. E em um caminho mais fácil, o Brasil teria pela frente Chile ou Suíça nas oitavas, Holanda ou Paraguai nas quartas, França e Inglaterra na semifinal.

Quem também não deu sorte no sorteio foi o técnico brasileiro Carlos Alberto Parreira. No Grupo A, da África do Sul, caíram França, México e Uruguai. A abertura da Copa do Mundo de 2010 vai será entre África do Sul e México, no dia 11 de junho, em Joanesburgo.

Já a Argentina, de Maradona, caiu em um grupo razoável com Nigéria, Coreia do Sul e Grécia. Nossos rivais estreiam na Copa do Mundo contra a Nigéria, no dia 12 de junho.



O sorteio


Para que o sorteio fosse, paradoxalmente, o mais equilibrado possível, a Fifa estabeleceu algumas regras. A principal foi dividir as 32 seleções em quatro potes, levando-se em consideração geografia e, principalmente, força futebolística. Foram oito países por pote e cada um deles ficou em um dos oito grupos do torneio.



O sorteio começou com a definição dos cabeças de chave. No primeiro pote estavam Brasil, Itália, Alemanha, Argentina, Inglaterra, Holanda e Espanha. A África do Sul, anfitriã do torneio, completava a lista. Os países foram escolhidos a partir da posição das equipes no ranking de outubro da Fifa.



Como país-sede da Copa do Mundo, a África do Sul era a única com o grupo garantido (A). A partir daí, as outras seleções começaram a ser distribuídas, por sorteio, pelos grupos de "B" a "H". O primeiro país sorteado foi a Argentina, que ficou no Grupo B. E assim por diante, a Inglaterra caiu no "C", a Alemanha no "D", a Holanda no "E" e a Itália no "F". O Brasil, finalmente, caiu no grupo G, o preferido pela CBF. Por fim, sobrou a Espanha como cabeça de chave do grupo H.

Conhecidos os cabeças de chave, veio a vez do pote 2. Nele estavam os classificados da Oceania, Ásia e Concacaf: Nova Zelândia, Austrália, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos, Honduras e México.

O primeiro país sorteado foi o México, que caiu no grupo A da África do Sul. Para o grupo da Argentina veio a Coréia do Sul. Os Estados Unidos caíram junto com a Inglaterra, o Japão foi para o no grupo da Holanda, a Nova Zelândia ficou no grupo da Itália. E como a sorte parecia estar ao lado do Brasil, a Coréia do Norte acabou caindo no grupo G. Por fim, Honduras foi para o grupo H, da Espanha.

O sorteio do pote 3 foi dirigido. As seleções sul-americanas (Paraguai, Uruguai e Chile) não poderiam ficar nos mesmos grupos de Brasil e Argentina. Assim como as africanas (Costa do Marfim, Camarões, Gana, Nigéria e Argélia) não ficariam no Grupo A, onde a anfitriã África do Sul era a cabeça de chave.

Os dois primeiros africanos sorteados, então, foram colocados nos grupos dos sul-americanos. Assim, a Nigéria caiu no grupo B da Argentina e a Costa do Marfim veio para o grupo G, do Brasil. As bolas continuaram saindo e a Argélia foi para o grupo C, da Inglaterra, o Uruguai caiu no grupo A, da África do Sul, Camarões foi para o grupo E, da Holanda, e o Chile sobrou para o grupo H, da Espanha.

Por último veio o sorteio do pote 4, onde estavam as seleções europeias: França, Portugal, Eslovênia, Suíça, Grécia, Sérvia, Dinamarca e Eslováquia. Para azar da África do Sul, a França saiu logo para o grupo A. A Grécia foi para o grupo B, da Argentina, a Eslovênia foi para o grupo C, da Inglaterra, a Sérvia para o "D", da Alemanha. A Dinamarca foi sorteada para o grupo E, da Holanda. O Brasil, novamente, não deu sorte e Portugal acabou caindo no grupo G. Por fim, a Suíça sobrou para o grupo H, da Espanha.
A cerimônia

A cerimônia começou às 15h (horário de Brasília) com uma mensagem gravada pelo ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz, Nelson Mandela, além de uma conversa entre o atual presidente sul-africano, Jacob Zuma, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter.

- O futebol tem o poder de unir os povos. Por isso é tão importante ter uma Copa do Mundo na África do Sul. Estamos muito orgulhosos de ter recebido esta honra - disse Mandela.

Logo depois, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, e o presidente da Fifa, Jospeh Blatter, entraram no palco e foram recebidos com aplausos para um discurso.

- A Copa do Mundo na África é uma história de amor - disse Blatter,
que depois brincou com a apresentadora Caro Manana, dizendo se apaixonar pela África só de olhar para ela.

A bela atriz sul-africana Charlize Theron, vencedora do Oscar, também foi chamada ao palco. Assim como o meia inglês David Beckham e o zagueiro sul-africano Matthew Booth. O maior astro do futebol de Camarões, Roger Milla, também compareceu à festa.

Antes do sorteio, foram apresentados vídeos curtos sobre a África do Sul, o país sede, sobre as 32 seleções classificadas para o Mundial e sobre a história das Copas, de 1930 a 2006.

 






11 perguntas que os cientistas ainda não conseguem responder

Jaqueline Mendes, Klester Cavalcanti e Roberto Moregola


"Quem pensa pouco erra muito." A frase é de Leonardo Da Vinci, um dos maiores gênios que o mundo já conheceu nos mais diversos campos do conhecimento. E retrata à perfeição o combustível que move esta reportagem. A ciência já alcançou feitos revolucionários ao longo da história. Há 100 anos, a ideia de navegarmos pelo espaço e chegarmos à Lua não passava de ficção - como é hoje a proposta de termos, quem sabe em um futuro próximo, gente vivendo na superfície do satélite terrestre. Mais um exemplo: a nanotecnologia enche milhões de enfermos de esperança ao criar robôs menores que a ponta de um fio de cabelo, capazes de realizar viagens pelo interior do corpo humano em busca de todo tipo de cura. Mas, apesar de toda essa evolução tecnológica, ainda há questões - e não são poucas - para as quais os cientistas permanecem sem respostas. A seguir, você conhecerá 11 delas. Para analisar esses mistérios, ISTOÉ conversou com especialistas de várias áreas, levantou hipóteses, derrubou mitos e abriu espaço para opiniões diversas. O debate está aberto e envolve desde aspectos quase metafísicos - um deles: a alma existe? - até temas totalmente cotidianos, como a capacidade de raciocínio dos animais. Se o leitor não sabe o que fazer diante de tantas interrogações, não se sinta só. Lembre-se de que nada nos impede, com a preciosa ajuda da ciência, de tentar encontrar as respostas. Nada nos impede, como dizia Da Vinci, de pensar a respeito. E pensar muito.
A cronologia do Big Bang

Entenda a teoria mais aceita pelos cientistas sobre a criação do Universo






1. Como surgiu o Universo? Como poderíamos responder à pergunta acima? Se concordarmos com os cientistas, diríamos que o cosmos foi criado a partir de uma grande explosão, que deu origem a tudo. É isso que diz a teoria do Big Bang, que afirma que o Universo nasceu há cerca de 13 bilhões de anos, a partir da expansão - geralmente chamada de "explosão" - de um corpo de densidade e temperatura incalculáveis. Pois saiba que essa história não é uma certeza absoluta - e por isso mesmo é chamada de teoria. Apesar de ser a ideia mais aceita pela ciência, o Big Bang nunca foi comprovado e talvez nunca seja. E é exatamente nesse ponto que se firmam os alicerces dos que acreditam que o mundo foi criado por uma entidade suprema, conceito-base de praticamente todas as religiões. E se a teoria da criação divina não tem comprovação científica, a do Big Bang baseia-se em evidências e fenômenos observados hoje no cosmos, prováveis resquícios da explosão original - e que os cientistas do Centro Europeu de Física Nuclear (Cern), laboratório que abriga o mais potente acelerador de partículas do mundo, estão tentando recriar com seus experimentos.

Não é de hoje que o Big Bang leva pancadas dos especialistas. Na década de 1950, a teoria chegou a ser ameaçada pelo modelo do estado estacionário, que dizia que o Universo teria sido o mesmo em todos os lugares e em todos os instantes, derrubando, assim, a ideia de que tudo teria surgido ao mesmo tempo. Outro questionamento surge quando se pensa naquilo que poderia existir antes do Big Bang. Na opinião do astrofísico Marcelo Gleiser, autor do livro "A Dança do Universo", a resposta é simples: nada. "Não existia um 'antes'. Esse tipo de pergunta nasce do preconceito comum de querer encontrar um evento anterior a tudo. O tempo simplesmente não existia. Ele surgiu com a criação", diz Gleiser. "A verdade é que, no que se refere à descrição dos fenômenos do início do Universo, ainda não há uma teoria que possa ser dada como certa e definitiva", afirma José Ademir Sales de Lima, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.




 2. Quando começa a vida?

A polêmica sobre a questão é tão intensa que até hoje a ciência não conseguiu chegar a uma única resposta. São diversas as teses a respeito do exato momento em que se inicia a vida humana. Durante a Idade Média, imperava a teoria de que ela só começava no instante do nascimento. Hoje, essa ideia é totalmente descartada. As mais aceitas - e discutidas - pela comunidade científica afirmam que a vida começa...


..com a fecundação
No momento em que o espermatozoide entra no óvulo, o que ocorre entre 12 e 48 horas após a relação sexual. A essa fase da gestação, muitos estudiosos dão o nome de "primeiro momento".




..com o início da atividade cardíaca
Para alguns cientistas, a vida humana começa por volta da quarta semana de gestação, quando o coração começa a bater.



...com a formação do sistema nervoso central


Na quinta semana, o embrião já apresenta movimentos involuntários, o que indica atividade do sistema nervoso, característica primordial para a vida humana.



...com o início da atividade cerebral

Considerando que uma pessoa é dada como clinicamente morta no momento em que seu cérebro para de trabalhar, alguns pesquisadores apontam o início da vida para o instante em que as ondas cerebrais começam a entrar em ação: oitava semana.



..com a nidação (ou implantação)
Este é o momento em que o embrião se firma na parede do útero. A partir daí, têm início os movimentos celulares que farão surgir todos os órgãos do corpo, dando, assim, forma humana ao embrião. O processo começa próximo ao quinquagésimo dia de gravidez.



...com o surgimento do feto
Grande parte dos estudiosos defende a teoria de que a vida humana se inicia na nona semana de gestação, quando o embrião evolui a feto com a formação básica dos órgãos. Deste momento em diante, o feto praticamente só aumentará de tamanho.




3. Quanto usamos do nosso cérebro?

Quando o assunto é a capacidade do nosso cérebro, uma pergunta sempre vem à tona: como alcançar 100% de seu potencial? Por muito tempo, acreditou-se que usávamos apenas a décima parte da capacidade cerebral. Com 90% de inatividade, certamente teríamos um grande terreno a ser desbravado. Hoje, já é sabido que isso não passa de um mito surgido entre os cientistas no início do século XX. O fato é que, até agora, a ciência não sabe precisamente quanto utilizamos do nosso potencial cerebral. "Embora existam especulações sobre o assunto, já sabemos, graças ao estudo de imagens funcionais do órgão, que nos valemos de todas as suas áreas, de maneiras diferentes", afirma a neurocientista Suzana Herculano-Houzel. "Mas o percentual que utilizamos ainda é uma incógnita."



De acordo com pesquisas do Laboratório de Neuroanatomia Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o cérebro humano possui em média 86 bilhões de neurônios e 85 bilhões de células não neuronais. "O fato de os neurônios corresponderem à metade do cérebro não significa que sua capacidade esteja reduzida à metade", diz Suzana. Saber que a máquina cerebral funciona a todo vapor e se utiliza de todas as ferramentas disponíveis não descarta, no entanto, o fato de que o cérebro, a exemplo do que podemos fazer com os músculos, deva - e precise - ser exercitado. "O sistema nervoso se molda de acordo com a estimulação ambiental", diz Gilberto Fernando Xavier, pesquisador do Laboratório de Neurociência e Comportamento da USP. A verdade é que o cérebro humano ainda é um terreno misterioso.

"Não sabemos, por exemplo, como bilhões de neurônios, que funcionam de maneira integrada, podem fazer maravilhas como a pintura e a música e, infelizmente, também as armas e a guerra."

4. A alma existe?

Em 1907, o médico americano Duncan MacDougall dedicou-se a comprovar a existência da alma. Com base em experimentos, ele chegou a afirmar que a alma não apenas existe como também tem peso específico. Sua teoria diz que todo ser humano, não importa o tamanho ou a idade, perde exatamente 21 gramas no momento exato da morte. Para MacDougall, seria esse, portanto, o peso da alma - dado que virou até mesmo título de filme. Mas grande parte da comunidade científica internacional não aceita como verdadeiras essas conclusões. Controvérsias à parte, há quem acredite e até tenha histórias para contar a respeito da alma. É o caso da educadora Lucy Lutfi, 74 anos, que passou por duas Experiências de Quase Morte (EQM) - quando o paciente é dado como clinicamente morto e volta à vida. Num desses episódios, em 1972, ela foi atingida por uma grande onda no mar do Guarujá, em São Paulo. Lucy conta que assistiu à cena desconectada do próprio corpo: "Eu me via sendo lançada contra as rochas. Senti que deslizava por um túnel e raciocinava sobre os acontecimentos com clareza." Socorrida na praia, voltou a viver.

Para Marcelo Silva, coordenador do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, Lucy teve a sua alma projetada para fora do corpo. "Algumas pessoas chamam de 'alma'. Outras, de 'consciência'. Mas acreditamos que seja a mesma coisa", diz ele. Independentemente da nomenclatura, trata-se de algo ainda inexplicável e que gera embates. Para o neurologista Gilberto Fernando Xavier, a "alma nada mais é do que os bilhões de neurônios do cérebro alimentados pela formação cultural e toda sorte de informação que um indivíduo recebe durante a vida". Silva contesta: "Não temos uma definição precisa do que vem a ser a alma. Mas, pelas pesquisas realizadas, entendemos que ela não é o cérebro nem um tipo de energia conhecida pela física, o que torna sua busca um desafio ainda maior para a ciência."


5. Os animais pensam?

A informação é contundente: o cérebro dos golfinhos tem maior concentração de neurônios do que o nosso. Para que tudo isso e como esses cetáceos utilizam todo esse potencial ainda é um mistério. Mas já é sabido que eles estão entre os animais mais inteligentes da Terra: são capazes de se reconhecerem, lembram de fatos do passado, têm linguagem muito similar à nossa - com "palavras", gestos e movimentos. E até ajudam humanos em perigo. Não são raros os relatos de pessoas salvas de afogamentos por eles. Outra história interessante: é comum, nas regiões habitadas por golfinhos, grupos de machos seguirem os barcos. Durante muito tempo, prevaleceu a ideia de que era um tipo de brincadeira. Ledo engano. "Os machos fazem isso para afastar o barco das fêmeas e filhotes. Já que as embarcações invariavelmente seguem os golfinhos, é uma excelente estratégia", diz o oceanógrafo José Martins da Silva Júnior, que estuda os golfinhos de Fernando de Noronha há quase 20 anos. O curioso é que, nesse exemplo, os animais enganam os humanos, levantando a insólita questão: quem são os seres inteligentes dessa história?

Para deixar a discussão ainda mais quente, vale ressaltar que provas de inteligência animal estão por toda parte. Ou você acha que um cachorro aprende a sentar e a dar a pata por simples obra do acaso? Mas raciocínio e inteligência não significam, necessariamente, capacidade de pensamento. Até hoje, não sabemos se os animais são capazes de planejar como nós. Os golfinhos, por exemplo, não acordam pela manhã e "pensam": "Hoje, eu tenho de afastar aqueles turistas da minha família." Mas que os bichos são dotados de admirável inteligência, isso já é uma certeza. Um caso célebre envolve uma ave. Em 2002, pesquisadores do Departamento de Ecologia Comportamental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, assistiram, deslumbrados, a algo até então inédito. Um corvo fêmea usou um fio de arame (após entortá-lo) para retirar a comida que havia sido colocada no fundo de um tubo de vidro. Não há dúvida: a ave acabara de se mostrar capaz de resolver um problema e, o mais fantástico, de criar uma ferramenta com um objetivo específico.

6. É possível viajar no tempo?

"Nunca penso no futuro. Ele chega rápido demais." Quando disse a frase, o físico alemão Albert Einstein provavelmente não fazia uma alusão à possibilidade de viajar no tempo. No entanto, todas as hipóteses formuladas atualmente sobre o tema sustentam-se na Teoria da Relatividade, formulada por ele em 1905. Segundo tal teoria, o tempo passa mais devagar à medida que um objeto se aproxima da velocidade da luz (cerca de 300 mil km/s). Einstein mostrou que relógios em movimento contam o tempo mais vagarosamente. "Isso significa que, se passarmos um ano viajando pelo espaço a uma velocidade muito próxima à da luz, quando voltarmos à Terra terão se passado 100 anos aqui", diz o astrofísico Richard Gott, da Universidade de Princeton, nos EUA. "De certa forma, poderíamos visitar o futuro."

Se viajar ao amanhã é algo fisicamente factível, a volta no tempo é mais complicada. Para isso, seria preciso superar a velocidade da luz. "A viagem para o passado não existe. A ideia viola o princípio da causalidade, que entende que toda série de eventos depende de uma ordem de causa e consequência", diz o astrofísico Marcelo Gleiser. Esse é o princípio do "paradoxo do avô", que levanta a questão: o que aconteceria se uma pessoa voltasse ao passado e matasse o próprio avô, impedindo, assim, o nascimento do pai e, portanto, seu próprio nascimento? Como essa pessoa poderia ter assassinado o avô, se ela nem chegou a nascer? Tais ponderações são apaixonantes. Mas a possibilidade de viajarmos no tempo ainda está longe. "Um dos problemas práticos é a tecnologia. Não temos como construir um foguete ou uma espaçonave para isso", diz Gleiser. "São projetos que só supercivilizações poderão tentar", completa Gott.
O PARADOXO DOS GÊMEOS

Elaborado em 1911, o experimento imaginário ilustra como seria uma viagem no tempo

A hipótese sugere que, enquanto um irmão gêmeo permanece na Terra, o outro sai numa viagem pelo espaço num foguete que alcança uma velocidade próxima à da luz. Caso o astronauta viaje por seis meses, quando ele voltar, já terão se passado cerca de 50 anos para o irmão que ficou na Terra.








 7. Existe premonição?

Quando o analista de sistemas Rodolfo Rossi, 24 anos, partiu de São Paulo para Santa Catarina, num ônibus de excursão, sua mãe - a dona de casa Divina Andrade, 54 anos - sentiu um aperto no coração, uma sensação pesada, como se algo de ruim estivesse para acontecer ao filho. "Nunca havia sentido nada parecido", ela lembra. Para o psicoterapeuta Ascânio Jatobá, especialista no estudo de sonhos, Divina estava tendo uma premonição: "A mãe é ligada de maneira inconsciente ao filho. E é muito natural ter intuições enquanto a cria está distante." Os cientistas, obviamente, não acreditam em avisos vindos do além ou coisas do gênero e explicam o sentimento da mãe de Rodolfo de uma forma mais racional. "O nosso cérebro tenta ver o futuro o tempo todo. Em situações de conflito e stress, calculamos as probabilidades de algo ruim acontecer", diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel. "Com base em conhecimentos e experiências armazenados na memória, temos projeções do que pode vir a se concretizar", acrescenta o neurologista Gilberto Fernando Xavier.

O responsável por essa proeza é o córtex cingulado anterior, uma porção do cérebro que analisa todas as probabilidades e projeta previsões. A partir disso, o indivíduo dá mais atenção ao assunto e tem sensações que se apresentam na forma de stress diante do futuro. Contrariando as leis da ciência, Jatobá afirma que a premonição, na verdade, "é um conteúdo inconsciente que invade a consciência por meio de sonhos ou intuições". E, claro, só é possível confirmar se o pressentimento tinha fundamento depois que o fato acontece - ou não. Até que algo se concretize, a dúvida é inerente ao "premonitor". No caso da dona de casa Divina, sua intuição funcionou. Durante a viagem do filho, houve uma ação da polícia contra brigas localizadas e o rapaz, mesmo sem estar envolvido na confusão, acabou sendo ferido por uma bala de borracha. "Creio que tive uma premonição", diz a mãe.



8. O que define nossa sexualidade?


"Nasci gay", afirma o estilista Isaac Ludovic, 22 anos. Ele se lembra de sua infância em Barreiras, interior da Bahia, e diz que já naquela fase era convicto de que pertencia ao universo feminino. "Minha diversão era me vestir de menina e brincar com bonecas." Mas para o namorado de Isaac - que prefere não se identificar - a história foi diferente. Já haviam se passado a infância e a adolescência quando ele descobriu que era homossexual. O caso de Isaac se encaixa perfeitamente na explicação da pesquisadora e neurocientista Suzana Herculano- Houzel sobre o assunto: "O interesse sexual é definido biologicamente no início da gestação e não há nada que se possa fazer." Mudanças hormonais, doenças, medicamentos e até herança genética podem alterar a maneira como o hipotálamo do bebê - parte do cérebro responsável pelo comportamento sexual, entre outras funções - responde a estímulos.

Mas o que explica o caso do namorado de Isaac, que pensava ser heterossexual até os 22 anos? Para o psicólogo Oswaldo Rodrigues Júnior, do Instituto Paulista de Sexualidade, o indivíduo não nasce com a sexualidade definida e pode mudar de orientação: "Isso mostra por que muitas pessoas passam por fases assexuadas ou se tornam homo ou bissexuais." A neurocientista Suzana ressalta que nascer com a sexualidade definida não garante que o indivíduo aceitará a si próprio e assumirá sua inclinação. "O importante é saber que a preferência sexual vem com a criança, como a cor dos olhos, e não deve haver discriminação." Já o psicólogo australiano Allan Pease, autor de best sellers como "Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?", é radical: "A sexualidade não só é definida no útero como também é imutável."



9. A fé pode curar?

Existem milagres? Uma pessoa pode ser curada simplesmente pela força de sua fé? É muito provável que essas perguntas nunca sejam respondidas. Pelo menos, não de uma forma que agrade a religiosos e cientistas. Mas uma coisa já é consenso entre estudiosos: a fé pode, sim, auxiliar na recuperação de um doente. É o que comprova o trabalho do pesquisador americano Herbert Benson, do Instituto Mente-Corpo da Universidade de Harvard (EUA). Benson estuda a influência da crença há mais de 35 anos. Em uma de suas obras, "Medicina Espiritual", ele afirma que a fé e a meditação melhoram a saúde. Segundo Benson, manter a mente calma e relaxada - como ocorre quando uma pessoa ora ou medita - pode combater problemas como hipertensão, tensão pré-menstrual, insônia e até infertilidade. E ainda alivia os efeitos de doenças crônicas.

Mas não estamos diante de uma prova cabal de que a fé seja sinônimo de alta hospitalar. Os estudos apenas comprovaram que a devoção ativa partes do cérebro que causam bem-estar, dão mais esperança e positivismo ao paciente e deixam o enfermo relaxado - fatores que auxiliam na recuperação. O próprio pesquisador faz questão de destacar que a fé deve ser uma aliada dos medicamentos e tratamentos convencionais. Rodolfo Puttini, doutor em saúde coletiva pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), compartilha dessa tese. "A espiritualidade é formada por valores que ajudam na cura", diz ele. Já o neurocientista Alfredo Pereira Júnior, falando sobre o que chama de "recuperação do corpo pelo próprio corpo", ressalta que, "quando a mente se envolve no processo da cura por meio da fé, ela ativa mecanismos fisiológicos que influenciam o corpo, auxiliando. Mas isso não quer dizer que a fé possa curar alguém".


10. Por que nos apaixonamos?

 Aparência física, instinto de preservação da espécie, hormônios à flor da pele ou uma flechada aleatória do cupido. As hipóteses são muitas, mas a pergunta acima persiste. "Esse é um mistério que tentamos explicar há séculos e para o qual ainda não temos uma resposta definitiva", diz a psicoterapeuta britânica Paula Hall, que há 15 anos trata casais com problemas de relacionamento. Tudo indica que a paixão não tenha um motivo isolado, mas, sim, um conjunto de razões. Pesquisas sobre como uma pessoa define sua cara-metade, por exemplo, indicam que, quanto maior a semelhança com o alvo desejado, mais chance de rolar uma paixão. A semelhança, no caso, diz respeito tanto ao aspecto físico quanto à personalidade do outro.
 
Aspecto igualmente importante e bastante examinado da paixão tem a ver com os processos bioquímicos. "O amor pode ser dividido em três fases: luxúria, atração e ligação afetiva. Em cada uma delas produzimos diferentes hormônios. Durante a luxúria, principalmente estrogênio e testosterona, que causam o desejo sexual. Na atração, PEA e dopamina, substâncias que nos fazem querer passar todo o tempo com a pessoa amada. Já a ligação afetiva é influenciada sobretudo pela oxitocina e pela vasopressina, que criam um vínculo emocional. No entanto, mais uma vez, isso não explica tudo. Do ponto de vista bioquímico, ficamos literalmente viciados na outra pessoa. Infelizmente, a sensação não dura para sempre", diz Paula. Assim, o mistério permanece à disposição de cientistas, filósofos e poetas, que há séculos se debruçam sobre o fenômeno atrás da definição perfeita.
11.Quando e como o mundo vai acabar?

Estamos a cinco minutos do apocalipse. Pelo menos é o que diz o Relógio do Fim do Mundo, uma criação do Bulletin of the Atomic Scientists, grupo de cientistas que avalia a proximidade de uma catástrofe global. Criado em 1945 para alertar a humanidade sobre o perigo da proliferação de armas nucleares, o relógio agora também leva em conta o impacto das mudanças climáticas na Terra para determinar seu ritmo. Quanto mais próximos os ponteiros estiverem do número 12, mais perto estaremos da aniquilação. "É fácil imaginar os danos causados por explosões nucleares. No entanto, tendemos a não acreditar que os bilhões de motores em funcionamento no mundo possam causar dano semelhante. Mas eles podem", diz o ambientalista americano Bill McKibben, autor do livro "O Fim da Natureza". Embora as previsões a respeito dos efeitos da ação humana sobre o clima sejam alarmantes, McKibben acredita que eles não serão capazes de causar a destruição total: "O planeta sobreviverá. Mas vamos causar a morte de muitos humanos, bichos e plantas. E é bem possível que isso aconteça antes do fim deste século."

Independentemente da ação do homem, sabemos que a extinção do planeta é um acontecimento inevitável. Muito provavelmente, o responsável por isso será o Sol, cuja energia permite a vida na Terra. Para iluminar e aquecer o sistema solar, a estrela queima seu próprio combustível nuclear. Esse processo não vai durar para sempre. Mas, nesse quesito, ainda temos muito tempo. Vai levar cerca de cinco bilhões de anos para o Sol se tornar uma estrela gigante, vermelha, que se expandirá e destruirá os planetas que encontrar pelo caminho - inclusive o nosso.

"Portanto, se até lá o homem não destruir a Terra, o apocalipse ocorrerá de qualquer maneira", diz José Ademir Sales de Lima, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP). Claro que tudo também pode acabar com a colisão de um asteroide com a Terra ou - por que não? - uma invasão extraterrestre. Teorias não faltam. "Os medos apocalípticos nunca cessam. Se eles tivessem se concretizado, não estaríamos mais aqui. Podemos ficar tranquilos, está tudo bem", garante o astrofísico Marcelo Gleiser.

 

Reportagem da edição deste mês da revista Isto É.

http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2090/artigo157110-1.htm